terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Receita de Ano Novo, por Carlos Drummond de Andrade

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo,
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
têm de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre".

(Carlos Drummond de Andrade)


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Feliz 2014!


Que em 2014 haja mais sonhos, mais encontros fabulosos, mais notícias felizes. 

Que em 2014 a gente realize, degrau por degrau, o caminho que nos leve ao topo de nossos objetivos, sejam eles grandes ou simples e valiosos.

Que em 2014 nos reste tempo para sermos nós!

Que em 2014 haja menos injustiça, mais amigos, mais respeito pelo outro, mais compromisso, mais esperança.

Que em 2014 a gente aprenda mais com os nossos erros e com os erros cometidos conosco.

Que em 2014 a gente não desista de olhar a vida por cima de nossos ombros, cabeça erguida, sorriso largo, coração inundado de felicidade!

Porque é assim que a gente merece; é assim que deve ser.  

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Então, é Natal!

E ocorreu-me que é o nosso primeiro Natal aqui no Blogue, com um dia chuvoso, eu cá, mais ou menos, tentando tornar o nosso Natal caloroso, familiar, doce e feliz. É sempre uma data confusa para mim! Do outro lado ou aqui, nunca estamos todos juntos! Mesmo assim, é Natal e é um dia para ser feliz!

Um Santo e Feliz Natal para todos, com um grande abraço meu e da minha pequena família!
 


domingo, 22 de dezembro de 2013

Maitê Gorgonzola

Ela é uma mulher linda, vencedora, uma atriz fenomenal e uma pessoa controversa. Sua última passagem por Portugal deu o que falar e acho que foi infeliz! Um pedido de desculpas, meio inconclusivo, mesmo assim coube-lhe bem. Mas desta vez disse coisas certíssimas sobre o terror que para alguns é envelhecer. E eu transcrevo-a, literalmente: 
Estamos envelhecendo, estamos envelhecendo, estamos envelhecendo, só ouço isto. No táxi, no trânsito, no banco, só me chamam de senhora. E as amigas falam “estamos envelhecendo”, como quem diz “estamos apodrecendo”. Não estou achando envelhecer esse ho...rror todo. Até agora. Mas a pressão é grande. Então, outro dia, divertidamente, fiz uma analogia. O queijo Gorgonzola é um queijo que a maioria das pessoas que eu conheço gosta. Gosta na salada, no pão, com vinho tinto, vinho branco, é um queijo delicioso, de sabor e aroma peculiares, uma invenção italiana, tem status de iguaria com seu sabor sofisticadíssimo, incomparável, vende aos quilos nos supermercados do Leblon, é caro e é podre. É um queijo contaminado por fungos, só fica bom depois que mofa. É um queijo podre de chique. Para ficar gostoso tem que estar no ponto certo da deterioração da matéria. O que me possibilita afirmar que não é pelo fato de estar envelhecendo ou apodrecendo ou mofando que devo ser desvalorizada. Saibam: vou envelhecer até o ponto certo, como o Gorgonzola. Se Deus quiser, morrerei no ponto G da deterioração da matéria. Estou me tornando uma iguaria. Com vinho tinto sou deliciosa. Aos 50 sou uma mulher para paladares sofisticados. Não sou mais um queijo Minas Frescal, não sou mais uma Ricota, não sou um queijo amarelo qualquer para um lanche sem compromisso. Não sou para qualquer um, nem para qualquer um dou bola, agora tenho status, sou um queijo Gorgonzola.
(Maitê Proença) 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bacalhau com Puré de Grão (sugestão para a Consoada de Natal)

O que combina com Natal, prendas, supermercados cheios e mil coisas pelo meio? Claro que é uma receita de bacalhau fácil de preparar, que não nos tome quase tempo nenhum e ainda por cima delicioso. Portanto, se ainda anda a pensar nisso, já tem a solução: Bacalhau com Puré de Grão de Bico. Imbatível!

Bacalhau com Puré de Grão de Bico

Ingredientes
Lombos de bacalhau (média 1 por pessoa)
Azeite (quanto baste)
Coentros picados (q. b.)
4 dentes de alho
1 cebola
1 lata grande de grão de bico (mais ou menos 500g)
120ml leite
Sal e pimenta

Modo de fazer
1. Temperar os lombos de bacalhau (já demolhados) com azeite, 2 dentes de alho bem picados, cebola cortada aos gomos e ervas. Levar ao forno a 180ºC durante aproximadamente 15 minutos. 2. Numa frigideira, refogar o restante do alho com azeite, juntar o grão e depois de refogado triturar tudo com leite. Temperar à gosto com sal e pimenta e aquecer em lume brando na hora de servir. 3. Servir o bacalhau sobre o puré de grão e regar com azeite e ervas.




terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Portugal em declínio da fecundidade

Segundo dados de uma pesquisa do portal EcoDebate, de José Eustáquio Diniz Almeida, desde 1980 as taxas de fecundidade das mulheres portuguesas estão abaixo do nível de reposição, porém as projeções indicavam que a população ainda cresceria e esperava-se uma certa recuperação dessas taxas. No entanto, a crise económica que teve início em 2008, conjugada com o crescimento vegetativo (mortalidade menos natalidade) negativo, acelerou o processo de declínio populacional. O que mantinha a população estável era o saldo migratório positivo, quadro que se alterou completamente a partir de 2010 e 2011. 

Uma reportagem de Agosto deste ano, de Patrícia Mello, da Folha de São Paulo, mostra que Portugal vive a maior crise demográfica da história e pode perder 1 milhão de habitantes (quase 10% da população) em 10 a 20 anos. Cerca de 100 mil portugueses emigram anualmente desde 2010, o número de óbitos é bem maior do que o número de nascimentos e a taxa de fecundidade está em declínio, sendo já uma das mais baixas do mundo (1,28 filho por mulher). É certo que o decrescimento da população europeia é antigo mas no caso de Portugal a crise demográfica é ainda mais grave porque está aliada à emigração de mão de obra jovem e qualificada. Portugal tem a quarta maior percentagem de população com 65 anos da União Europeia (19,4%), perdendo apenas para Alemanha, Itália e Grécia.

Diz-se que Portugal encontra-se numa espiral viciosa: sem perspetiva económica, não se vislumbra uma melhoria da situação demográfica e, por outro lado, a crise demográfica agrava a crise económica. Em síntese, o declínio económico está a provocar o declínio da fecundidade e a transformar a imigração em emigração.

Traçando um paralelo com a situação brasileira, conclui-se que o caso de Portugal serve como ilustração para o Brasil, já que as taxas de fecundidade das mulheres brasileiras também estão abaixo do nível de reposição e a população deve começar a diminuir a partir de 2030. Mais, se houver crise económica, a emigração de suas riquezas humanas vai voltar a acontecer, como atualmente se nota em Portugal.

Com isto, a contar pela conjuntura económico-social desfavorável em termos de condições de trabalho e da tradição na falta de políticas de apoio à família em defesa da maternidade/parentalidade (ao contrário do que sói ocorrer em outros países da Europa), dificilmente se percetiva uma mudança considerável no caso paradigmático de Portugal. Ademais, com a queda vertiginosa da fecundidade, o aumento da longevidade e a redução do número de casamentos, é conclusivo que a população portuguesa projeta-se para o envelhecimento como um fenómeno apontado como irreversível. Ao lado da imigração, é este o grande desafio enfrentado pela sociedade portuguesa, nesta e nas gerações futuras, e para o qual deve encontrar respostas de modo a garantir a sua continuidade.

Ou seja, temos de nos sentir apoiados no desejo de ter mais filhos, de ter condições de cria-los e educa-los, de não nos sentir prejudicados na progressão da carreira profissional se precisamos de acompanha-los. E depois de investirmos neles (nos nossos filhos), temos de não sermos forçados a vê-los partir por falta de perspetiva, a mesma que nos assusta. Mas isto tudo não é o que já sabemos? Alguém, por favor, pode nos trazer uma boa notícia para o próximo ano de 2014? É que não é o que nos dizem e, se calhar, ninguém quer ficar aqui, a morrer de velhice solitária! 

Se querem saber mais, vejam, com interesse, no portal do Instituto Nacional de Estatística, os estudos: «A situação demográfica recente em Portugal» e «Primeira reflexão sobre a fecundidade, as condições de trabalho e as políticas de apoio à maternidade numa perspectiva regional».     

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Prece do dia (Metade, Oswaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Marcas da maternidade

Costumo dizer que a vida da gente é dividida em dois períodos importantes: antes e depois dos filhos. Não estou a falar de mudança de rotina, hábitos ou prioridades, que para alguns pode não ser tão significativo assim! Estou a falar de uma mudança estrutural, da raiz às pontas, de um sentimento tão exclusivo e tão facilmente delineável que quase nos transfere outra identidade, depois dos filhos. Na escola dos pequenos, por exemplo, passamos a ser "a mãe" ou "o pai". No início, fazia-me alguma confusão! Como se de repente tivesse perdido o meu nome próprio, aquele ao qual até então respondia, para passar a ser referida pela nova espécie a que pertencia, do género mater.

Isto sem falar, no que toca às mulheres, a uma outra transformação igualmente importante - e inicialmente chocante - qual seja, do físico. Passamos 9 meses esticando... às vezes uma, duas ou mais vezes durante a vida e, como é óbvio - pelo menos para a grande maioria na qual me incluo! - não voltamos num passe de magia às medidas ou formas de antes, talvez nunca mais! Tudo bem, há mulheres que se sentem (e de facto se tornam!) muito mais bonitas; outras contam com a ajuda da medicina estética, mas estou a falar, nesse caso, da regra geral. Nesse caso, depois dos filhos, o que acontece a muitas mulheres, durante um período variável e ocupado com os cuidados com o bebé, é um quase desleixo natural e que se acentua quando o espelho não reflete a imagem que se conhecia de antes da gravidez. Segundo os médicos, o corpo da mulher pode demorar até um ano para voltar ao "normal", mas a verdade é que, muitas vezes, as marcas físicas deixadas pela maternidade são perenes.

E em razão disto, um grupo de mulheres uniram-se no Facebook em volta do projeto Birth Marks - Marcas de Nascença, da fotógrafa brasileira Leticia Valverdes, divulgando imagens e relatos de suas experiências com a maternidade e com o seu próprio corpo antes e depois dos filhos. As mulheres deixam-se fotografar tal como são, sem maquilhagem, manipulação ou pós-produção. Este tipo de trabalho fotográfico vem ganhando adeptos, tendo a fotógrafa americana Jade Beall também ficado conhecida a fotografar mulheres "sem retoques" pós-parto.
 
É um trabalho emocionante, cujo resultado pode ser conferido aqui ou na página do Facebook referida. E também, ser fotografada com o bebé, de uma forma mais íntima e materna, pode fazer parte de um processo de autoestima das recém-mamãs, ajudando-as a compreenderem a beleza que suplanta todo o estereótipo ou forma física. Como quando um amigo meu disse à sua mulher, perante as queixas que fazia relativas às suas marcas da maternidade: "Eu não me casei com uma barriga!". Foi talvez a declaração de amor mais bonita que já ouvi! 
        

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Domingando...

Eu domingo, tu domingas, ele dominga...

E nada como domingar pela Baixa de Lisboa!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Obrigada, Madiba!


Morre Nelson Mandela (95 anos), advogado, ativista, preso político durante 27 anos, herói anti-aphartheid e primeiro Presidente negro da África do Sul eleito democraticamente. Na defesa da liberdade e dos direitos humanos, deixa um legado incalculável para a humanidade. A liberdade, sem dúvida, foi a sua grande obra!

Nelson Mandela responde por seis nomes. Ao nascer, foi chamado "Rolihlahla" pelo pai, que significa «que traz problemas». Na escola, recebeu do professor o nome cristão "Nelson". "Madiba" é o nome do clã Themu a que pertence, sinal de respeito e carinho, assim como "Tata" ou «pai», por ser considerado o pai da democracia na África do Sul, e "Khulu" ou «avô», sinónimo de grande e supremo. Ainda, era conhecido por "Dalibhunga", que significa «criador ou fundador da conciliação e do diálogo».

Para homenagear este grande líder, cuja vida dedicou a humanidade, copio algumas das suas frases mais célebres. Será para sempre recordado pela generosidade e grandeza de seus ensinamentos.

Obrigada, Madiba!
"Ninguém nasce a odiar o outro pela cor da pele, pela origem ou pela religião. As pessoas aprendem a odiar e, se podem aprender a odiar, também podem aprender a amar".
"A educação é a mais poderosa arma, pela qual se pode mudar o mundo".
"Aprendi que o valor não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. Um homem valente não é aquele que não sente medo, mas o que se sobrepõe a ele".
"Uma boa cabeça e um bom coração formam sempre uma combinação formidável!".
"Você não é amado porque você é bom, você é bom porque é amado".
"Eu sou o capitão da minha alma".
"Parece sempre impossível até que seja feito".
"Perdoem. Mas não esqueçam!".
"Da experiência de um anormal desastre humano que durou demasiado tempo tem de nascer uma sociedade da qual toda a humanidade se orgulhe".
"Nunca, nunca, nunca mais deverá esta terra fantástica voltar a sofrer a opressão de um homem sobre o outro".
"A grandeza da vida não consiste em não cair nunca, mas em levantarmo-nos de cada vez que caímos".
"Depois que subimos uma grande montanha, descobrimos que há muito mais montanhas para escalar".
"Tanto quanto brancos mataram negros, negros mataram brancos". 
"A imprensa é um dos pilares da democracia".
"Lutar contra a pobreza não é um assunto de caridade, mas de justiça".
"Haverá vida depois de Mandela". 
"A morte é algo inevitável. Quando um homem fez o que acreditava necessário pelo seu povo e pelo seu país, pode descansar em paz. Creio ter cumprido esse dever e, por isso, descansarei para a eternidade". 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O correr da vida embrulha tudo...

 
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor".
 
(João Guimarães Rosa, «Grande Sertão: Veredas», 1956).


Frida Kahlo

Teve a doença e o amor como as maiores tragédias da sua vida. Uma grande mulher, sem dúvida! 
 
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Check-list: o último mês do fim do ano...

Chegou Dezembro e já invade-me aquela sensação angustiante quando, de posse do meu check-list, noto que metade do que me propus ficou por fazer. Se calhar, sou uma chefe tirana comigo mesma! Mas é que o tempo não anda, voa! E depois tem os entretantos, os imprevistos e os intervalos de melancolia improdutiva. Morro de inveja de quem não precisa esvaziar a mente para poder pensar! Se calhar, tenho um minúsculo repositório mental! Para o ano, prometo: Vou ter 60% da tese escrita; vou fazer o Estágio Notarial; vou estudar inglês e escrita criativa e, se der, vou prestar um concurso. Devem achar que estou a começar uma carreira profissional, pois não? Talvez! Só não tenho mais um filho porque não há orçamento, nem disposição física. Se eles já nascessem com dois anos, por aí! É que as noites, as viroses e as fraldas dão cabo de mim! Ou se calhar, até teria!
 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Quem conta um conto: «O Guardião do Castelo»

"Certo dia, num mosteiro budista, com a morte do guardião foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou todos os discípulos para poder determinar quem seria o novo sentinela. Então, com muita tranquilidade, falou:
- Assumirá o posto o monge que primeiro conseguir resolver o problema que vou apresentar.
Colocou uma magnífica mesa no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, sobre ela, um vaso de porcelana muito raro, de valor inestimável, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo. E disse:
- Aqui está o problema!
Todos ficaram admirando aquela cena! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?
Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou para todos, dirigiu-se ao centro da sala e... ZAPT... destruiu tudo com um só golpe. Depois retornou ao seu lugar. O mestre sentenciou:
- Você será o nome Guardião do Castelo. Não importa que o problema seja algo belíssimo! Se for um problema, precisa ser eliminado.
Moral da história: Um problema é um problema, mesmo que se trate de algo ou alguém sensacional ou de um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja, ou tenha sido, se não fizer mais sentido, tem de ser suprimido. Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que atualmente só ocupam um espaço inútil em seus corações e mentes. Espaço este indispensável para recriar a vida. Existe um provérbio oriental que diz mais ou menos assim: "Para poder beber vinho numa taça cheia de chá, é preciso antes jogar o chá fora"
Ou seja, limpe a sua vida, comece pelas gavetas, armários, até chegar às pessoas do passado que não fazem mais sentido... O passado serve como lição, como experiência, como referência. Serve para ser lembrado e não revivido. Use as experiências do passado no presente, para construir o seu futuro. Necessariamente nessa ordem!".

E assim, aproximando-se o final do ano, quem sabe este não seja um exercício importante para se fazer? Conto este conto porque, há tempos atrás, depois de lê-lo resolvi fazer uma faxina a sério, joguei imensas coisas fora, coisas que só ocupavam espaço desnecessário, e abri o coração para o que veio de novo e bom. Sempre, todos os anos, por volta desta época natalícia releio-o e refaço a limpeza das gavetas, armários e da vida. O desapego é uma coisa que ainda me custa, mas depois constato que, de facto, não há espaço para tudo.
 
Pensem nisto, neste fim de semana! 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Para o frio, chocolate quente!

Com o frio que está a fazer e que prenuncia um inverno gélido para nós, que estamos deste lado do hemisfério norte, nada como uma chávena de chocolate quente! Simples e delicioso! Segue a minha receita:
 
Ingredientes
500ml de leite
1 colher de sopa rasa de amido de milho
4 colheres de sopa rasa de chocolate em pó (ou a gosto)
cascas de laranja
canela em pó ou pau de canela
 
Modo de fazer
1. Separar um pouco do leite e dissolver o amido de milho, em seguida acrescentar o chocolate em pó e incorporar tudo. 2. Levar o restante do leite ao lume e quando começar a levantar fervura, juntar a mistura de amido de milho e chocolate em pó, sem parar de mexer, até adquirir uma consistência cremosa. 3. Distribuir em chávenas (xícaras) com uma ou duas tiras de casca de laranja. 4. Polvilhar canela em pó ou mexer com pau de canela. Outra opção deliciosa é acrescentar chantilly por cima e raspas de chocolate. 5. Servir ainda quente.  
 
 

Afinal, não há roedores na Coca-Cola!

Lembram do post «Eu bebo sim, e estou vivendo», sobre o caso de um rato encontrado numa garrafa de Coca-Cola e que teria intoxicado um consumidor brasileiro? Pois é, o processo foi julgado e o pedido de indemnização considerado improcedente, por falta de prova e de nexo causal entre a condição física e psicológica do autor e a ingestão do refrigerante. As conclusões dos peritos foram no sentido de que "não é possível a aparição de um corpo estranho do tipo observado visualmente na garrafa lacrada... sem que tenha ocorrido ruptura do lacre". Ademais, os médicos atestaram que o autor é portador de transtornos de personalidade e de comportamento, sem relação com os factos.

Portanto, os apreciadores da Coca-Cola, pelo menos no que diz respeito aos roedores, podem continuar sem receios!

A decisão pode ser consultada, aqui 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Porque os jovens profissionais da geração Y estão infelizes

Estes dias li um texto muito interessante, publicado por Cris Leão, cujo título é uma pergunta: «Seu filho precisa mesmo ser tão feliz?». O texto pode (e acho que deve!) ser consultado, aqui. E ao lê-lo, percebi que também cometo erros grosseiros, como mãe. De modo que ontem ao jantar, quando a Malu exclamou: "- Mamãe, nasceste para ser mãe!", eu fiquei surpresa e verdadeiramente feliz! Agradeci-lhe muito, com muitos beijinhos, e confessei-lhe: "-Às vezes acho que não sou boa mãe, perco a paciência, fico cansada! Por que você diz isso?". E ela respondeu-me: "-Porque cuidas muito bem de nós!". A Malu volta e meia me deixa sem palavras, ela acabou de completar 6 anos, mas emocionalmente parece que tem muito mais! Desta vez, eu senti que era verdade, que nós somos muito melhores para os nossos filhos do que aquilo que imaginamos... e que não é preciso fazer assim, tanto! Tal como o texto sugere!

Mas esse texto me levou a outro, que por sua vez se refere a geração de jovens nascidos entre o fim da década de 70 e a metade da década de 90, ou seja, entre os 20 e os 40 anos de idade. Neste último, explica-se, em pormenores, porque os jovens desta geração se sentem tão frustrados e infelizes! Claro que, atrás desses jovens infelizes, vêem os pais - o que me fez lembrar de uma frase do Casusa (que eu na verdade nunca entendi muito bem!): "Só as mães são felizes!". Não conseguiria, sem prejuízo, transmitir a essência do texto, por isso transcrevo-o literalmente. Leiam abaixo, é fabuloso! E depois de constatarmos isto tudo, nunca mais seremos os mesmos.

***      

Esta é a Ana.


Ana é parte da Geração Y, a geração de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990. Ela também faz parte da cultura Yuppie, que representa uma grande parte da geração Y.
“Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. - Wikipedia
Eu dou um nome para yuppies da geração Y — costumo chamá-los de “Yuppies Especiais e Protagonistas da Geração Y”, ou “GYPSY” (Gen Y Protagonists & Special Yuppies). Um GYPSY é um tipo especial de yuppie, um tipo que se acha o personagem principal de uma história muito importante. Então Ana está lá, curtindo sua vida de GYPSY, e ela gosta muito de ser a Ana. Só tem uma pequena coisinha atrapalhando: Ana está meio infeliz. Para entender a fundo o porquê de tal infelicidade, antes precisamos definir o que faz uma pessoa feliz, ou infeliz. É uma formula simples:


É muito simples — quando a realidade da vida de alguém está melhor do que essa pessoa estava esperando, ela está feliz. Quando a realidade acaba sendo pior do que as expectativas, essa pessoa está infeliz. Para contextualizar melhor, vamos falar um pouco dos pais da Ana:


Os pais da Ana nasceram na década de 1950 — eles são “Baby Boomers“. Foram criados pelos avós da Ana, nascidos entre 1901 e 1924, e definitivamente não são GYPSYs.


Na época dos avós da Ana, eles eram obcecados com estabilidade econômica e criaram os pais dela para construir carreiras seguras e estáveis. Eles queriam que a grama dos pais dela crescesse mais verde e bonita do que as deles próprios. Algo assim:


Eles foram ensinados que nada podia os impedir de conseguir um gramado verde e exuberante em suas carreiras, mas que eles teriam que dedicar anos de trabalho duro para fazer isso acontecer.


Depois da fase de hippies insofríveis, os pais da Ana embarcaram em suas carreiras. Então nos anos 1970, 1980 e 1990, o mundo entrou numa era sem precedentes de prosperidade econômica. Os pais da Ana se saíram melhores do que esperavam, isso os deixou satisfeitos e otimistas.


Tendo uma vida mais suave e positiva do que seus próprios pais, os pais da Ana a criaram com um senso de otimismo e possibilidades infinitas. E eles não estavam sozinhos. Baby Boomers em todo o país e no mundo inteiro ensinaram seus filhos da geração Y que eles poderiam ser o que quisessem ser, induzindo assim a uma identidade de protagonista especial lá em seus sub-conscientes. Isso deixou os GYPSYs se sentindo tremendamente esperançosos em relação à suas carreiras, ao ponto de aquele gramado verde de estabilidade e prosperidade, tão sonhado por seus pais, não ser mais suficiente. O gramado digno de um GYPSY também devia ter flores.


Isso nos leva ao primeiro fato sobre GYPSYs: GYPSYs são ferozmente ambiciosos.

President1

O GYPSY precisa de muito mais de sua carreira do que somente um gramado verde de prosperidade e estabilidade. O fato é, só um gramado verde não é lá tão único e extraordinário para um GYPSY. Enquanto seus pais queriam viver o sonho da prosperidade, os GYPSYs agora querem viver seu próprio sonho. Cal Newport aponta que “seguir seu sonho” é uma frase que só apareceu nos últimos 20 anos, de acordo com o Ngram Viewer, uma ferramenta do Google que mostra quanto uma determinada frase aparece em textos impressos num certo período de tempo. Essa mesma ferramenta mostra que a frase “carreira estável” saiu de moda, e  também que a frase “realização profissional” está muito popular.


Para resumir, GYPSYs também querem prosperidade econômica assim como seus pais – eles só querem também se sentir realizados em suas carreiras, uma coisa que seus pais não pensavam muito. Mas outra coisa está acontecendo. Enquanto os objetivos de carreira da geração Y se tornaram muito mais específicos e ambiciosos, uma segunda ideia foi ensinada à Ana durante toda sua infância:


Este é provavelmente uma boa hora para falar do nosso segundo fato sobre os GYPSYs: GYPSYs vivem uma ilusãoNa cabeça de Ana passa o seguinte pensamento: “mas é claro… todo mundo vai ter uma boa carreira, mas como eu sou prodigiosamente magnífica, de um jeito fora do comum, minha vida profissional vai se destacar na multidão”. Então se uma geração inteira tem como objetivo um gramado verde e com flores, cada indivíduo GYPSY acaba pensando que está predestinado a ter algo ainda melhor: Um unicórnio reluzente pairando sobre um gramado florido.


Mas por que isso é uma ilusão? Por que isso é o que cada GYPSY pensa, o que põe em xeque a definição de especial:

es-pe-ci-al | adjetivo
melhor, maior, ou de algum modo
diferente do que é comum
De acordo com esta definição, a maioria das pessoas não são especiais, ou então “especial” não significaria nada. Mesmo depois disso, os GYPSYs lendo isto estão pensando, “bom argumento… mas eu realmente sou um desses poucos especiais” – e aí está o problema. Uma outra ilusão é montada pelos GYPSYs quando eles adentram o mercado de trabalho. Enquanto os pais da Ana acreditavam que muitos anos de trabalho duro eventualmente os renderiam uma grande carreira, Ana acredita que uma grande carreira é um destino óbvio e natural para alguém tão excepcional como ela, e para ela é só questão de tempo e escolher qual caminho seguir. Suas expectativas pré-trabalho são mais ou menos assim:


Infelizmente, o mundo não é um lugar tão fácil assim, e curiosamente carreiras tendem a ser muito difíceis. Grandes carreiras consomem anos de sangue, suor e lágrimas para se construir – mesmo aquelas sem flores e unicórnios – e mesmo as pessoas mais bem sucedidas raramente vão estar fazendo algo grande e importante nos seus vinte e poucos anos. Mas os GYPSYs não vão apenas aceitar isso tão facilmente. Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, e expert em GYPSYs, fez uma pesquisa onde conclui que a geração Y tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. Ele diz que “uma grande fonte de frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não alcançadas. Elas geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”. Para aqueles contratando membros da geração Y, Harvey sugere fazer a seguinte pergunta durante uma entrevista de emprego: “Você geralmente se sente superior aos seus colegas de trabalho/faculdade, e se sim, por quê?”. Ele diz que “se o candidato responde sim para a primeira parte mas se enrola com o porquê, talvez haja um senso inflado de grandeza. Isso é por que a percepção da grandeza é geralmente baseada num senso infundado de superioridade e merecimento. Eles são levados a acreditar, talvez por causa dos constantes e ávidos exercícios de construção de auto-estima durante a infância, que eles são de alguma maneira especiais, mas na maioria das vezes faltam justificativas reais para essa convicção”. E como o mundo real considera o merecimento um fator importante, depois de alguns anos de formada, Ana se econtra aqui:


A extrema ambição de Ana, combinada com a arrogância, fruto da ilusão sobre quem ela realmente é, faz ela ter expectativas extremamente altas, mesmo sobre os primeiros anos após a saída da faculdade. Mas a realidade não condiz com suas expectativas, deixando o resultado da equação “realidade – expectativas = felicidade” no negativo. E a coisa só piora. Além disso tudo, os GYPSYs tem um outro problema, que se aplica a toda sua geração: GYPSYs estão sendo atormentadosObviamente, alguns colegas de classe dos pais da Ana, da época do ensino médio ou da faculdade, acabaram sendo mais bem-sucedidos do que eles. E embora eles tenham ouvido falar algo sobre seus colegas de tempos em tempos, através de esporádicas conversas, na maior parte do tempo eles não sabiam realmente o que estava se passando na carreira das outras pessoas. A Ana, por outro lado, se vê constantemente atormentada por um fenômeno moderno: Compartilhamento de Fotos no Facebook. As redes sociais criam um mundo para a Ana onde: A) tudo o que as outras pessoas estão fazendo é público e visível à todos, B) a maioria das pessoas expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C) as pessoas que expôe mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem a não expor sua situação. Isso faz Ana achar, erroneamente, que todas as outras pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.


Então é por isso que Ana está infeliz, ou pelo menos, se sentindo um pouco frustrada e insatisfeita. Na verdade, seu início de carreira provavelmente está indo muito bem, mas mesmo assim, ela se sente desapontada. Aqui vão meus conselhos para Ana:

1) Continue ferozmente ambiciosa. O mundo atual está borbulhando de oportunidades para pessoas ambiciosas conseguirem sucesso e realização profissional. O caminho específico ainda pode estar incerto, mas ele vai se acertar com o tempo, apenas entre de cabeça em algo que você goste.

2) Pare de pensar que você é especial. O fato é que, neste momento, você não é especial. Você é outro jovem profissional inexperiente que não tem muito para oferecer ainda. Você pode se tornar especial trabalhando duro por bastante tempo.

3) Ignore todas as outras pessoas. Essa impressão de que o gramado do vizinho sempre é mais verde não é de hoje, mas no mundo da auto-afirmação via redes sociais em que vivemos, o gramado do vizinho parece um campo florido maravilhoso. A verdade é que todas as outras pessoas estão igualmente indecisas, duvidando de si mesmas, e frustradas, assim como você, e se você apenas se dedicar às suas coisas, você nunca terá razão pra invejar os outros.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

"O aborto fetopático no Direito Penal brasileiro", artigo publicado na Revista Amicus Curiae da UNESC

Para quem se interessa pelo tema, foi recentemente publicado na Revista Amicus Curiae, Vol. 10, nº 10 (2013), o artigo de minha autoria, «O aborto fetopático no Direito Penal brasileiro: Análise comparativa com o direito português»
 
A Revista Amicus Curiae é o período científico anual do Curso de Direito da Universidade Estadual de Santa Catarina (Brasil), de acesso livre e imediato, com o objetivo de disseminar o conhecimento científico de forma gratuita com vista à sua democratização mundial. Encontra-se em publicação eletrónica, disponível para consulta, aqui. O artigo em questão é o segundo do sumário.
 
Segue o resumo:
 
"O Brasil do Século XXI ainda mantém, estanque, a legislação abortiva do Código Penal (CP) de 1940. Para além de não acompanhar a política mundial de expansão dos direitos das mulheres, recentemente reafirmada na I Reunião da Conferência Regional sobre População e Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (Montevidéu, Uruguai), o abortamento por anomalia fetal grave ou lesão do nascituro, muitas vezes incurável e com risco de vida materna, continua criminalizado, salvo a hipótese de anencefalia segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). A razão para tamanha restrição, no entanto, não encontra amparo constitucional".  

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Até que a morte nos separe!

Estou calada, não somente porque "caiu-me" a casa, desorientou-me o ritmo, refiz trajetos e tomei decisões que me custaram; não pelo facto de serem como agora são, mas por ter sido tudo urgentíssimo, contrariando a minha necessidade de ponderar seja o que for. Estou calada, é verdade, mas isto é porque não consigo escrever. Tenho mãos sãs, mas que escrevem o que vem de dentro de mim... e agora o que sinto é triste e confuso! Até hoje, mantive-me muda, a espera que a tempestade passasse, numa espécie de transe ou oração, silenciada. Mas hoje, pelo significado do dia, decidi falar. Não sei bem o por quê, às vezes sinto simplesmente que devo dizer, como se assim, ao revelar que a mim também me acontece, que não estamos sós nesse universo de amor e dor, de dias bons e menos bons, de sensações tão ambíguas, pudesse ser importante para alguém! E fico mais leve! Hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, falaria de qualquer forma, só por acreditar na importância desta causa. No entanto, hoje senti que deveria dizer que a violência contra as mulheres também me atingiu em cheio! Não a mim, diretamente, mas a mulheres que amo profundamente (e a dada altura, também a um homem!)! Hoje refiro-me, precisamente, a uma mulher que, de tanta solidão e de tanta sede de encontrar o amor, atira-se a ele mesmo sem vê-lo, até que, desta vez, "acertou" em um agressor. E dói-me imensamente ver a sua desgraça e daqueles que lhes são próximos, dói-me ainda mais porque, sem compreender, ela voltou mesmo machucada para os braços que lhe apertaram com ódio e dor. Exatamente como escrevi no post «E por que é que ela fica?»! Tornei-me assim, em sentimento, uma espécie de vítima transversal da violência... porque não me sinto capaz de reagir, de convencer e de proteger alguém que amo... e que continua sem saber o que é o verdadeiro amor! 
 
Assim, através deste testemunho, vejam uma mulher sem marcas visíveis no corpo, que às vezes se culpa por ser feliz, que vive num lar funcional e estrutural, mas que, nem assim, esteve longe de ser atingida reflexamente pela violência doméstica. Vejam o quão nocivo e até onde se pode propagar um ato de violência, tão grave que fere mortalmente os mais essenciais direitos da pessoa humana e, ainda mais, das crianças que assistem indefesas às agressões. Vejam isto como um motivo importante para denunciar e propagar esta luta, que mais do que minha ou sua, deve ser de toda a sociedade.
 
Para assinalar este dia, remeto à campanha de sensibilização sobre a violência contra as mulheres veiculada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), cujo vídeo partilho, como forma de alertar para o crescente número de mulheres que todos os dias são assassinadas pelos seus maridos ou companheiros. E o meu desejo é que um dia as pessoas sejam realmente livres para amar (ou não!)! Que um dia o amor não aprisione, não isole, não aliene, não machuque! Ainda, que um dia o amor pelo outro só venha depois do nosso próprio amor! 
 
             

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Alô Brasil, prepara a receção! Tem Portugal no Mundial!

 
Não ligo nada ao Futebol, o que não impediu que ontem, durante 90 minutos, estivesse de olhos fixos na TV. Para nós lá de casa, o Mundial do Brasil, sem Portugal, não teria a mesma graça! E sofremos e comemoramos, a Eva bem mais! A cada grito de "Golooooooo...", a Evinha ricochetava "Bolooooooo... (?) quer bolo, mãe!". Risos e mais risos, com bolo ou sem bolo, Portugal vai para o Brasil!
 
Mas para mim, que não percebo nada disto, o destaque do jogo foi a autoconfiança do grandioso Cristiano Ronaldo, mais até do que o seu preparo físico. Enquanto comemorava os golos, percebia-se ele dizer: "Eu estou aqui!", como quem afirma: "Eu existo, eu resolvo isto!". Pois é, isto faz uma enorme diferença! E, fez! 
 
Foi assim que hoje acordamos, com um sorriso bem largo e colorido de Brasil e Portugal! E antes que voltem a nos lembrar a crise e os problemas sociais - de ambos os lados! -, vamos combinar que é bom uma pausa para respirar e que o povo, já agora unido, merece e tem motivos para festejar. Como veem, uma nação também se faz de talentos e de vitórias!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Que linda é a língua portuguesa!

Que coisa linda! Que lindo quando dois grandes talentos se encontram! Como isto me diz tanto!
 
  

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A gente cresce, minha pequena!

A gente não teve tempo de se preparar, mas teve de ser assim! De ontem para hoje, às pressas, ficou tudo pronto: matrícula, mochila, uma muda de roupa, chuchas, fraldas, cremes, peluches... E a Eva foi para a Escola! Já íamos na quarta tentativa de mantê-la em casa, no seu ritmo e aconchego, até aos 3 anos. Mas nem sempre as coisas saem como planeamos, nem sempre temos a mesma sorte, nem sempre é bom para todos! Rendi-me, com uma ponta de tristeza e frustração, obrigada pelas circunstâncias a crescermos todos rapidamente, às vezes antes do tempo. Mais do que isto, reconheço que há apego e que se calhar é todo meu! Hoje saí daquela Escola pensando nos tantos laços e amores por detrás daqueles rostinhos ávidos de vida, de carinho e cheios de adeus. E agradeci àquelas pessoas com tantos outros laços e amores e adeuses, a cuidar do que temos de mais valioso, do que nos faz fortes e ao mesmo tempo tão vulneráveis! Depositados, aqui e ali, ficam fragmentos de nosso coração.   
 
  

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Novamente, a onda gigante!

Às vezes sinto que sou apanhada por uma onda gigante, dessas que aponta lá longe, pequeniniiiiiinha! Depois se aproxima, se forma e cresce assustadora! Vem sem que eu esteja a espera e me abraça, ou melhor, me abocanha. Rodopio de um lado para o outro, bebo imensa água, subo e desço várias vezes. E depois, exausta, me aprumo na área. Levanto e sigo, ainda meio atordoada!
 
Às vezes, tenho vontade de desistir! É sempre mais fácil desistir! Por que razão eu insisto? Por que querer ir tão longe, por que essa altivez de quem consegue sempre, ou melhor, de quem pode com tudo, aguenta com tudo, de quem sabe sempre o que é melhor? A verdade é que, quando a onda gigante me apanha, eu submerjo. E por um instante, uma fração de segundos, um quase nada, eu penso que não sou capaz; penso, sinceramente, em desistir. Talvez em "dar um tempo" naquilo que me diz respeito, que é o que normalmente acho que pode esperar! Se há alguém, neste mundo, que me causa inveja, é a mãe do Ruca. Que equilíbrio, que serenidade, que disponibilidade tão grande!  
 
Bem, a onda deixa os seus estragos, mas por certo desfaz-se! Amanhã será um outro dia, começaremos num registo diferente, talvez menos precário, talvez mais constante... Haveremos de nos adaptar, eu mais do que os outros! É só mais uma tempestade num mar de calmaria.   

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Leite materno à venda na Internet ou a versão moderna da galinha dos ovos de ouro

notícias que de vez em quando voltam à tona, mas por mais absurdo que possa parecer, não é de hoje que se compra e vende leite materno na Internet. Pelo menos desde 2010, nos Estados Unidos da América o mercado vem crescendo e se desenvolvendo, havendo já um site especializado, o Only the Breast, que promove a intermediação entre mães com dificuldades em amamentar e outras com leite a mais e que querem vende-lo. O negócio é bastante lucrativo, havendo um levantamento de casos de mães que angariam cerca de US$ 1.200,00 por mês somente com a venda de leite materno e a inclusão de anúncios até do Reino Unido e da União Europeia.
 
Antes de mais, é preciso contextualizar a notícia e frisar que, na cultura americana, um facto como este pode ser perfeitamente bem aceito e encarado com naturalidade. No entanto, deve-se ressaltar os sérios riscos que envolvem o comércio de fluido humano, sobretudo tendo em conta que, ao contrário do que acontece nos bancos públicos de leite, é impossível controlar a procedência e a qualidade do leite vendido através da Internet, como por exemplo se as mães tiveram os necessários cuidados com a saúde e a higiene durante o armazenamento; da mesma forma como não se pode controlar a utilização final desse produto, sabendo-se que em muitos casos o leite é adquirido por homens que não são progenitores.  

Todos conhecem os benefícios do aleitamento materno, tanto para o bebé como para a mulher. Tive a sorte de poder amamentar as minhas duas filhas, uma bem mais do que a outra, porque elas próprias foram bebés diferentes e encontraram a mãe em fases diferentes da vida. Adorei amamentar, fá-lo-ia tantas vezes quantas fossem precisas, mas não sou nada fundamentalista! É ótimo que se tente, é excelente que se ultrapasse as dificuldades iniciais e se insista no aleitamento! E se não for possível, se não houver outra hipótese, penso que atualmente os suplementos são cada vez mais adequados e os laços entre mãe e filho são fortalecidos de inúmeras outras formas. Não há que sofrer por isto, nem que recorrer à compra de leite materno como solução.

Mas o que mais me assusta nesta notícia é que a facilidade como se compra e vende leite materno na Internet poderá fazer surgir uma classe de mulheres que engravidam para a produção de leite e outra que, dado o facilitismo, desistirá de amamentar diante da primeira dificuldade ou sequer experimentará. Isto sim, parece-me execrável, desumano e perigoso! Parece-me perfeitamente conjeturável uma versão moderna da fábula da galinha dos ovos de ouro!