segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Até que a morte nos separe!

Estou calada, não somente porque "caiu-me" a casa, desorientou-me o ritmo, refiz trajetos e tomei decisões que me custaram; não pelo facto de serem como agora são, mas por ter sido tudo urgentíssimo, contrariando a minha necessidade de ponderar seja o que for. Estou calada, é verdade, mas isto é porque não consigo escrever. Tenho mãos sãs, mas que escrevem o que vem de dentro de mim... e agora o que sinto é triste e confuso! Até hoje, mantive-me muda, a espera que a tempestade passasse, numa espécie de transe ou oração, silenciada. Mas hoje, pelo significado do dia, decidi falar. Não sei bem o por quê, às vezes sinto simplesmente que devo dizer, como se assim, ao revelar que a mim também me acontece, que não estamos sós nesse universo de amor e dor, de dias bons e menos bons, de sensações tão ambíguas, pudesse ser importante para alguém! E fico mais leve! Hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, falaria de qualquer forma, só por acreditar na importância desta causa. No entanto, hoje senti que deveria dizer que a violência contra as mulheres também me atingiu em cheio! Não a mim, diretamente, mas a mulheres que amo profundamente (e a dada altura, também a um homem!)! Hoje refiro-me, precisamente, a uma mulher que, de tanta solidão e de tanta sede de encontrar o amor, atira-se a ele mesmo sem vê-lo, até que, desta vez, "acertou" em um agressor. E dói-me imensamente ver a sua desgraça e daqueles que lhes são próximos, dói-me ainda mais porque, sem compreender, ela voltou mesmo machucada para os braços que lhe apertaram com ódio e dor. Exatamente como escrevi no post «E por que é que ela fica?»! Tornei-me assim, em sentimento, uma espécie de vítima transversal da violência... porque não me sinto capaz de reagir, de convencer e de proteger alguém que amo... e que continua sem saber o que é o verdadeiro amor! 
 
Assim, através deste testemunho, vejam uma mulher sem marcas visíveis no corpo, que às vezes se culpa por ser feliz, que vive num lar funcional e estrutural, mas que, nem assim, esteve longe de ser atingida reflexamente pela violência doméstica. Vejam o quão nocivo e até onde se pode propagar um ato de violência, tão grave que fere mortalmente os mais essenciais direitos da pessoa humana e, ainda mais, das crianças que assistem indefesas às agressões. Vejam isto como um motivo importante para denunciar e propagar esta luta, que mais do que minha ou sua, deve ser de toda a sociedade.
 
Para assinalar este dia, remeto à campanha de sensibilização sobre a violência contra as mulheres veiculada pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), cujo vídeo partilho, como forma de alertar para o crescente número de mulheres que todos os dias são assassinadas pelos seus maridos ou companheiros. E o meu desejo é que um dia as pessoas sejam realmente livres para amar (ou não!)! Que um dia o amor não aprisione, não isole, não aliene, não machuque! Ainda, que um dia o amor pelo outro só venha depois do nosso próprio amor! 
 
             

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