Escrever uma tese ou um trabalho com interesse científico pode parecer simples mas a mim a tese apavora, confronta e deprime. Às vezes, como forma de minimizar o meu desconforto, brigo com ela (amuo mesmo!) e digo-lhe em alto e bom som que ela é maior do que eu. Tem sido uma briga de titãs, sobretudo porque não faço ideia do que existe ao fim da tese! Seja lá o que for, obrigo-me a cumprir etapas sem pensar no que vem depois.
A minha guerra com a tese começa já pela forma escrita. Quando defendi o Projeto (que na dúvida escrevi segundo as normas ortográficas de Portugal), a primeira advertência feita pelo Arguente foi para seguir o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O que de certo modo me deixou "baralhada"! Isto porque, apesar de integrar a lusofonia, levei anos para "domesticar" o meu "brasilês" pouco formal ou mesmo arcaico (segundo me disseram!), sendo este um facto que procuro contornar. A dificuldade é acrescida, considerando que já confundo algumas regras ortográficas do meu português brasileiro com as do português de Portugal.
À partida, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa parece ser um alento caso venha a vigorar dentro dos seus propósitos, isto é, instituir uma ortografia oficial unificada, pondo fim às divergência existentes entre as normas ortográficas aplicadas no Brasil com as dos outros países de língua portuguesa. No entanto, as dúvidas persistem visto que o Acordo não tem conseguido o consenso dos linguistas e académicos, continuando desta forma com a sua obrigatoriedade suspensa.
O Acordo conta com a subscrição de todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) mas recentemente Angola assumiu uma posição contrária à sua vigência. Aliado a isto, no Brasil, o período de transição para a implementação das novas regras foi prorrogado para 31 de Dezembro de 2015 (o prazo original ia até 31 de Dezembro de 2012), alegadamente por exigir um maior tempo de maturação e para coincidir com o calendário de Portugal. As novas normas, portanto, continuam sendo de aplicação facultativa (aceitam-se as duas grafias) pelo menos até final de 2015 (no Brasil e em Portugal), mesmo já tendo sido adotadas pelas editoras, revistas e jornais.
São inúmeras as críticas que se fazem ao Novo Acordo. Há quem diga que o mesmo nunca prevalecerá, porque na realidade quem faz a língua é o povo, cujas particularidades são intransigíveis. Outros defendem que o Acordo precisa ser simplificado ou vamos todos correr o risco de voltar à velha "decorrera" de sempre. Mas o certo é que o Acordo, datado de 1990, já está desfasado e pelo visto não tem se prestado a cumprir a função político-cultural para a qual foi concebido.
Em suma, desconfio que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de tão velho, caia em desuso antes mesmo de chegar a ser! Aliás, pensando bem, é provável que já tenha nascido morto!