terça-feira, 30 de abril de 2013

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, um natimorto

Escrever uma tese ou um trabalho com interesse científico pode parecer simples mas a mim a tese apavora, confronta e deprime. Às vezes, como forma de minimizar o meu desconforto, brigo com ela (amuo mesmo!) e digo-lhe em alto e bom som que ela é maior do que eu. Tem sido uma briga de titãs, sobretudo porque não faço ideia do que existe ao fim da tese! Seja lá o que for, obrigo-me a cumprir etapas sem pensar no que vem depois.

A minha guerra com a tese começa já pela forma escrita. Quando defendi o Projeto (que na dúvida escrevi segundo as normas ortográficas de Portugal), a primeira advertência feita pelo Arguente foi para seguir o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O que de certo modo me deixou "baralhada"! Isto porque, apesar de integrar a lusofonia, levei anos para "domesticar" o meu "brasilês" pouco formal ou mesmo arcaico (segundo me disseram!), sendo este um facto que procuro contornar. A dificuldade é acrescida, considerando que já confundo algumas regras ortográficas do meu português brasileiro com as do português de Portugal. 

À partida, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa parece ser um alento caso venha a vigorar dentro dos seus propósitos, isto é, instituir uma ortografia oficial unificada, pondo fim às divergência existentes entre as normas ortográficas aplicadas no Brasil com as dos outros países de língua portuguesa. No entanto, as dúvidas persistem visto que o Acordo não tem conseguido o consenso dos linguistas e académicos, continuando desta forma com a sua obrigatoriedade suspensa.

O Acordo conta com a subscrição de todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) mas recentemente Angola assumiu uma posição contrária à sua vigência. Aliado a isto, no Brasil, o período de transição para a implementação das novas regras foi prorrogado para 31 de Dezembro de 2015 (o prazo original ia até 31 de Dezembro de 2012), alegadamente por exigir um maior tempo de maturação e para coincidir com o calendário de Portugal. As novas normas, portanto, continuam sendo de aplicação facultativa (aceitam-se as duas grafias) pelo menos até final de 2015 (no Brasil e em Portugal), mesmo já tendo sido adotadas pelas editoras, revistas e jornais.

São inúmeras as críticas que se fazem ao Novo Acordo. Há quem diga que o mesmo nunca prevalecerá, porque na realidade quem faz a língua é o povo, cujas particularidades são intransigíveis. Outros defendem que o Acordo precisa ser simplificado ou vamos todos correr o risco de voltar à velha "decorrera" de sempre. Mas o certo é que o Acordo, datado de 1990, já está desfasado e pelo visto não tem se prestado a cumprir a função político-cultural para a qual foi concebido.

Em suma, desconfio que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de tão velho, caia em desuso antes mesmo de chegar a ser! Aliás, pensando bem, é provável que já tenha nascido morto!

3 comentários:

  1. Como eu conheço esse pesadelo de escrever uma tese... Dias houve em que procurei convencer-me e convencer os que me são mais queridos, de que não ia de todo levar esse barco a bom porto. Aliás era uma verdadeira crónica de naufrágio!
    Noutros dias, acordava em mode question, mas se eu não desisto de nada, porque haveria de deixar a tese pendurada, mesmo sentindo que quem estava pendurada na forca era indiscutivelmente eu.
    Para complicar chega a boa nova: tese escrita tendo em conta o Novo Acordo Ortográfico. LINDO!
    Nem o computador queria colaborar e havia sublinhados vermelhos em tudo, a lembrar os tempos do lápis azul!
    Enquanto docente é óbvio que considero pertinentes as evoluções da Língua, mas há casos que não são evoluções, são aberrações!!!
    Para trazer aqui um pouco de alento, a verdade é que acabei por redigir a tese à luz do acordo em desacordo e no dia em que finalmente passei a defesa pública, RENASCI!
    Persistência, Núbia que o porto já se vislumbra!
    Sofia Vieira Reis

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    1. Sofia, muito obrigada por enriquecer este espaço de discussão e reflexão e também pelas palavras de conforto e ânimo... Parabéns por ter conseguido, eu hei de chegar lá... Não entrego os pontos... :) um abraço

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  2. ... confio na sua força de ser "uma metamorfose ambulante" ...

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