domingo, 27 de outubro de 2013

Só quem os tem...

Há uns dias a irritação me consome mais do que o normal. Durmo mal, preocupa-me as obrigações com o trabalho: a tese sem grandes progressos, a revisão editorial de artigos que não acaba, os dois artigos que me comprometi a escrever, o inglês, a falta de tempo que assola a humanidade... Preocupa-me outras questões importantes! E o cansaço vem em desassossego, vontade de me encolher, não ouvir ruído algum, reclamações nem pensar! Nem com a ervilha no arroz, nem com as couves na sopa, nem com o cocó, a roupa que não seca, a hora do banho, o ritual para dormir... E nessas horas, melhor não me queixar, há sempre alguém que sabe mais e traça o diagnóstico completo de minhas falhas, com prognóstico e tudo. Nessas horas, descubro que, se calhar, sou mãe a mais, estou presente demais quando estou com elas naquelas horas que nos restam para estarmos juntas. Devo ter o meu espaço, tomar posse dele, proibir a entrada. E chego a pensar que o amor deveria ser vendido em frasquinhos de 200, 500 ou 1000ml, deveria vir acompanhado por bula e uma seringa de administração das doses recomendadas para cada usuário. A gente chegava numa parafarmácia e pedia um frasquinho de amor mini ou médio ou um pouco maior, depois, conforme fosse, íamos fazendo o desmame! Bem, isso tudo seria um sonho, mas só quem é mãe, quem conscientemente quis ser mãe mais de uma vez e que não vê nisto um estatuto, nem uma obrigação que se delega, sabe o quanto é difícil administrar aos filhos amor em doses homeopáticas. No fundo, os filhos são o reflexo de nós mesmos! E o cansaço? Outro dia li no blog de uma amiga querida um post onde conta a história de uma pessoa próxima, uma mulher como tantas outras, que a dada altura da vida quis descansar. E se cansou de descansar. E sentiu-se só, mais do que isto, sentiu-se vazia. E suicidou-se. Isto sim é que é tristeza! Eu, de vazio, não me posso queixar!    

O vídeo, abaixo, do poema Enjoadinho de Vinicius de Moraes declamado por Paulo Autran, foi um alento!



4 comentários:

  1. Amei, É isso aí sem tirar nem por! Mesmo nao ter parido ainda,cuido de duas adolescente que ao chegar aqui ainda eram crianças, entretanto o amor nao é diferente, mudei toda minha vida, minha rotina, por conta das escolha que fiz,pk amor é sempre amor e isso não se explica... ;)

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    1. Obrigada, minha querida! Gosto muito de ouvir a opinião de quem acompanha o blog, com alguma frequência, e já faz parte dele, como vc. Obrigada, o amor é mesmo isto, não importa como chegou até nós... Às vezes é avassalador. Beijinho.

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  2. Pois é... é mesmo assim, amiga. Quase acreditei que tuas palavras eram minhas. E o poema do nosso grande poetinha, sem dúvidas é um carinho na alma!

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    1. Querida, que bom que voltaste a comentar! Obrigada ;) Bjs

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