Dadas as festividades do mês de
Abril e o próprio significado do nome “alfarrábios”, não poderia ser em outro mês
o nascimento deste blogue! Isto porque é neste mês que se comemora o Dia
Mundial do Livro Infantil (2 de Abril), o Dia Mundial do Livro e dos Direitos
de Autor (23 de Abril) e no Brasil, ainda, o Dia Nacional do Livro Infantil, em
homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato a 18 de Abril (1882). Portanto,
sendo o mês de Abril dedicado ao livro, “nos meus alfarrábios” já nasceu embalado
pelos deuses literários, o que é sem dúvida um excelente presságio!
A outra boa notícia é que, para
comemorar o Dia Mundial do Livro, a Livraria Wook devolve 100% do valor dos
livros comprados através do seu site. É uma campanha imperdível para os amantes da leitura e válida somente hoje, por
isso, aproveitem!
Por cá, o escolhido para ser
homenageado, entre tantos neste universo encantado dos livros, foi o grande
escritor brasileiro José Bento Monteiro Lobato. E isto se justifica, desde já
pelo acervo de grande valor do Autor, como a coleção «O Sítio do Pica-pau
Amarelo» (1920), com mais de 30 livros que até hoje nos fascina a todos. Além
disso, Monteiro Lobato foi um dos maiores incentivadores da leitura e será para
sempre recordado pelas suas frases célebres, como “Quem mal lê, mal ouve, mal
fala, mal vê”, ou ainda, “”Um país se faz com homens e livros”.
Contudo, lamentavelmente, o
Brasil que homenageia o seu ilustre filho dedicando-lhe o Dia Nacional do Livro
Infantil (Lei nº 10.402, de 8 de Janeiro de 2002) é o mesmo que pretende
retirar a sua obra «Caçadas de Pedrinho» (1933) do Programa Nacional Biblioteca
na Escola (PNBB), acusando-a de possuir elementos racistas.
A polêmica ainda não foi
encerrada, terminando sem consenso a audiência de conciliação realizada no
Supremo Tribunal Federal (STF) em Setembro do ano passado. De positivo, o
Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) desistiu de pedir a proibição da
adoção dos livros de Monteiro Lobato e o Ministério da Educação e Cultura (MEC)
solicitou à editora a inserção de texto nos novos exemplares em que se explica
e contextualiza a obra, assegurando a qualificação dos docentes para o efeito. Mas
o IARA mesmo assim considera as providências insuficientes.
O debate, verdadeiramente, é um
escárnio na cultura e na história intelectual brasileira! Não é excluindo os
livros de Monteiro Lobato (há um outro em discussão, «Negrinha», de 1920) que
se erradica o problema racial no Brasil, mas antes pelo contrário, utilizando-os
para combate-lo, de forma adequada, identificando as diversas formas de racismo
ainda existentes, através da mediação do professor.
Isto também foi sentido, de forma
comovida, por Luís Cabral de Oliveira, colega de doutoramento, amante dos
livros e da história da colonização portuguesa. O Luís tem um blogue que eu simplesmente
adoro (e sou seguidora) e que tem um nome muito peculiar: «Prazos do Serrazim».
Explicou-me que a escolha deve-se ao nome de uma propriedade do avô, localizada
nos arredores de Coimbra (Poiares).
O Luís é de todo um historiador! Enquanto
vai-e-vem à Goa nos conta histórias magníficas, como “O Grito da
Mula-sem-cabeça”, que começa pela história da sua própria família, desde a avó
Joaninha. E eu, leitora, desejei imensamente ter conhecido esta Senhora ancestral
do Luís, pelo simples fato de ter sentido a sua força vibrante transmitida
através de tantas gerações e que o Luís tão bem soube narrar! Silenciosamente,
fiz votos para que minhas filhas saibam passar adiante, da mesma forma tão
bela, os ensinamentos e orgulho que sinto em ser e me manter brasileira, com tudo
o que isto implica. Não é para isto que serve a leitura, para nos transportar
através do tempo?
Melhor é ler o texto do Luís, a
quem reporto-me nesta homenagem a Monteiro Lobato. Sei que saberão perceber a
razão para além desta homenagem, aquela que tocou meu coração e que partiu de um
português orgulhoso de sua ascendência brasileira lá nos confins, em defesa do
que é “nosso”. Senti, de repente, que tudo era uma coisa só!
Sem mais, corram ao Prazos do Serrazim e leiam “O Grito da Mula-sem-cabeça”, postado em 13 de Setembro de
2012.
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