terça-feira, 23 de abril de 2013

Homenagem a Monteiro Lobato no Dia Mundial do Livro: "O Grito da Mula-sem-cabeça", por Luís Cabral de Oliveira

Dadas as festividades do mês de Abril e o próprio significado do nome “alfarrábios”, não poderia ser em outro mês o nascimento deste blogue! Isto porque é neste mês que se comemora o Dia Mundial do Livro Infantil (2 de Abril), o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor (23 de Abril) e no Brasil, ainda, o Dia Nacional do Livro Infantil, em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato a 18 de Abril (1882). Portanto, sendo o mês de Abril dedicado ao livro, “nos meus alfarrábios” já nasceu embalado pelos deuses literários, o que é sem dúvida um excelente presságio!
 
A outra boa notícia é que, para comemorar o Dia Mundial do Livro, a Livraria Wook devolve 100% do valor dos livros comprados através do seu site. É uma campanha imperdível para os amantes da leitura e válida somente hoje, por isso, aproveitem!
 
Por cá, o escolhido para ser homenageado, entre tantos neste universo encantado dos livros, foi o grande escritor brasileiro José Bento Monteiro Lobato. E isto se justifica, desde já pelo acervo de grande valor do Autor, como a coleção «O Sítio do Pica-pau Amarelo» (1920), com mais de 30 livros que até hoje nos fascina a todos. Além disso, Monteiro Lobato foi um dos maiores incentivadores da leitura e será para sempre recordado pelas suas frases célebres, como “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”, ou ainda, “”Um país se faz com homens e livros”.
 
Contudo, lamentavelmente, o Brasil que homenageia o seu ilustre filho dedicando-lhe o Dia Nacional do Livro Infantil (Lei nº 10.402, de 8 de Janeiro de 2002) é o mesmo que pretende retirar a sua obra «Caçadas de Pedrinho» (1933) do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBB), acusando-a de possuir elementos racistas.
 
A polêmica ainda não foi encerrada, terminando sem consenso a audiência de conciliação realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) em Setembro do ano passado. De positivo, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) desistiu de pedir a proibição da adoção dos livros de Monteiro Lobato e o Ministério da Educação e Cultura (MEC) solicitou à editora a inserção de texto nos novos exemplares em que se explica e contextualiza a obra, assegurando a qualificação dos docentes para o efeito. Mas o IARA mesmo assim considera as providências insuficientes.
 
O debate, verdadeiramente, é um escárnio na cultura e na história intelectual brasileira! Não é excluindo os livros de Monteiro Lobato (há um outro em discussão, «Negrinha», de 1920) que se erradica o problema racial no Brasil, mas antes pelo contrário, utilizando-os para combate-lo, de forma adequada, identificando as diversas formas de racismo ainda existentes, através da mediação do professor.
 
Isto também foi sentido, de forma comovida, por Luís Cabral de Oliveira, colega de doutoramento, amante dos livros e da história da colonização portuguesa. O Luís tem um blogue que eu simplesmente adoro (e sou seguidora) e que tem um nome muito peculiar: «Prazos do Serrazim». Explicou-me que a escolha deve-se ao nome de uma propriedade do avô, localizada nos arredores de Coimbra (Poiares).
 
O Luís é de todo um historiador! Enquanto vai-e-vem à Goa nos conta histórias magníficas, como “O Grito da Mula-sem-cabeça”, que começa pela história da sua própria família, desde a avó Joaninha. E eu, leitora, desejei imensamente ter conhecido esta Senhora ancestral do Luís, pelo simples fato de ter sentido a sua força vibrante transmitida através de tantas gerações e que o Luís tão bem soube narrar! Silenciosamente, fiz votos para que minhas filhas saibam passar adiante, da mesma forma tão bela, os ensinamentos e orgulho que sinto em ser e me manter brasileira, com tudo o que isto implica. Não é para isto que serve a leitura, para nos transportar através do tempo?
 
Melhor é ler o texto do Luís, a quem reporto-me nesta homenagem a Monteiro Lobato. Sei que saberão perceber a razão para além desta homenagem, aquela que tocou meu coração e que partiu de um português orgulhoso de sua ascendência brasileira lá nos confins, em defesa do que é “nosso”. Senti, de repente, que tudo era uma coisa só!
 
Sem mais, corram ao Prazos do Serrazim e leiam “O Grito da Mula-sem-cabeça”, postado em 13 de Setembro de 2012.  

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