sexta-feira, 29 de maio de 2015

Mulher, acorda!

Outro dia, em conversa com um amigo que não vejo há séculos, perguntei-lhe pela R., ao que ele respondeu-me: 

- Tranquila. É Mãe, como tu

Continuei sem entender, até que em fração de segundos sinais neuronais foram enviados. Pensei: 

- Oh, pá! Maneira insossa de reportar-se à mulher! 

Depois... 

- Buáááááá... A sério? Sou uma Mãe? É isso?

Fiquei a pensar naquilo, na verdade por detrás daquilo e no quanto não nos apercebemos do processo de transformação a que passamos desde que somos... Mães. Nascemos, crescemos, tiramos a maior onda, lá para as tantas tornamo-nos... Mães. 

Oh, céus! É tudo? É mesmo somente isto que sobra de uma mulher que procria? Bem, vamos lá esclarecer os factos:

Eu sei que ser Mãe é algo incomensurável. Nos toma por completo, por dentro e por fora, nos preenche e preenche tudo que se mantém de pé ao nosso redor. E por saber disto, eu e tu, vamos deixar de tretas e confessar abertamente que ser Mãe é algo tão intenso que por largos tempos esquecemo-nos mesmo que há vida para além daquele bebé. A amamentação, as trocas de fralda, as noites pequenininhas... A gente é Mãe vinte e quatro sobre vinte e quatro, não há tempo para ser mais nada. 

À medida que os nossos pequenos vão se tornando grandes, agiganta-se ainda mais o nosso amor. Tanto ou ainda mais que, sem notar, inundamos a nossa vida real e virtual de vídeos, imagens, textos, tudo sobre eles. Passamos a falar meio assim, ternuriiiiiiinho, e num instante já estamos a tratar o nosso homem como um... Filho. A verdade, a mais pura verdade, é que o cansaço, a falta de disponibilidade, as tarefas de que nos ocupamos para ver os pimpolhos repletos de felicidade, vão dando cabo de nós. Então, um dia, em modo de elogio, o nosso homem olha para nós e diz: 

- Gosto de ti. És uma boa... Mãe.

Mulher, pára tudo. Vamos admitir, também não somos as bambambãs do pedaço, não temos super poderes nem sustentamo-nos à base de amor maternal. Alguma coisa fica prejudicada em meio a tamanha experiência e, de facto, quanto mais lhes damos mais eles exigem de nós.

Mulher, a vida continua depois da maternidade. Faz bem comprar maquilhagem; voltar a trabalhar; lembrar que o saco do bebé não é a nossa mala de senhora; sentir que ser Mãe, por mais que nos transforme para sempre, não deve nos aniquilar enquanto mulher. Ser Mãe é uma das nossas inúmeras, digamos, competências e efetivamente deve ser considerado a nosso favor - a gente se vira nos trinta depois que é Mãe -, embora sem idealizações e sexismo. Pode ser sexy ser Mãe! Bem gerido, pode haver espaço para todas nós dentro do nosso papel de Mãe.

Sabia que os nossos filhos são os nossos maiores observadores? Vê como eles nos admira - ou não - quando nos arranjamos e ficam cheios de orgulho quando a Mãe, gira, vai buscá-los à escola? Sabia que os nossos filhos precisam de nós completamente felizes? Sabia que eles gostam de dizer que a Mãe é "isto" e "aquilo"? Foi-se o tempo em que reservava-se à mulher essencialmente a maternidade e digo isto também para nós.

Homem, nós não somos a vossa Mãe. Mulher, acorda!
                   

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Abraça-me

Chega perto, vem cá, com cuidado. Não diz nada, dá-me as mãos e olha. 

Vês? Já se passaram tantos anos, nem lembro-me quanto! Lembro-me que sorrias quase sempre com ternura e tinhas um cheiro bom. Cercava-me e eu adormecia em teu colo; cercava-me e eu sentia que já podia ir, recarregada de afeto. 

Vês? Eu não esqueci-me. É impossível esquecer! Mesmo quando o mundo gira, mesmo quando já somos crescidas, mesmo quando nos sentimos menos importantes, é impossível esquecer...

Braço a braço, um amplexo, abraça-me. 

Faria-nos bem, um abraço!