quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Saudade

Há um dia para tudo e um dia inteirinho dedicado à saudade, essa palavra de origem latina - solitassolitatis - que, etimologicamente, significa "solidão". A língua portuguesa apoderou-se dela. Dizem que vem dos descobrimentos, da sua tradição marítima portuguesa, quando era utilizada para definir a melancolia causada pela ausência ou lembrança dos entes queridos. Sentimento que tão bem conheço!

Saudade é: 1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado. 2. Pesar, mágoa que essa privação causa.

Há saudade cantada, recitada; saudade falada, escrita, calada; saudade guardada, armazenada, reciclada. Há saudade matada, saudade até esquecida! Há saudade que aperta, saudade que inspira, saudade que dói, saudade escondida... Há saudade que não deixa saudade. Há tanta saudade, aqui e ali, há saudade por todo o lado... E ainda bem que há saudade!


SAUDADE

na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.

Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.

Que saudade...

(Mario Quintana)

Estado de espírito


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Justin Bieber


Criaram-lhe mal, fizeram-lhe acreditar que era grande. Cercaram-lhe de vontades, deram-lhe um ego gigante. Sem tempo de ser criança, brincou com brinquedos de gente grande. Cedo envelheceu, aos 19 anos anunciou a sua reforma. De estrela pop, passou a "perigoso, insensato, destrutivo e consumidor de drogas", uma ameaça para a segurança do povo e má influência para os jovens. Agora, mais de 100 mil americanos exigem a sua deportação e revogação da autorização de residência. Querem pôr o menino de castigo. Oxalá ainda vão a tempo!     

Quando me perco!

Às vezes perco o sono. Repasso o dia, infinitas vezes, em meus pensamentos. E perco o sono. Apavoram-me fantasmas, não do passado mas do futuro. Apavora-me o papel em branco, a tela vazia, as horas perdidas, as palavras desaparecidas. Apavora-me a exclusão, o escuro, o obscuro. Apavora-me não saber ou mesmo saber tão pouco quando era suposto saber tanto! 

Quando sinto-me assim gosto de ouvir no carro algum tipo de música calma, que é quando basicamente o faço! Acredito que as canções podem ser formas do universo comunicar, dizer-nos coisas através da sensibilidade de algumas pessoas, que entretanto também se perdem! Bem, quando não piora a minha melancolia geminiana, deixa-me serena. Hoje ouvi o Luís Represas, um dos meus portugueses favoritos. E cantou-me isto. E eu senti que era mesmo isto. E soube-me bem!


Quando me perco
busco um abrigo
ou um tecto que não tolha os meus sentidos 
E se o teu céu, por ser maior,
cobrir o pranto?
eu vou!

Quando me perco
sigo uma estrela 
que não brilha igual
em todo o firmamento.
E se cair para lá das ilhas encantadas?
eu vou!

Se o teu nome não fosse 
o do pecado,
ou da benção que o céu 
hoje me deu,
nem por montes,
nem por mares
onde o sol nunca nasceu,
perderia o rasto
de um sorriso teu!

Quando me perco
sigo uma voz
que me chama bem do fundo 
das certezas.
Mesmo que chegue 
como um canto de sereia?
eu vou!

Quando me perco
ou se me encontro,
ou se me der para ser banal 
tal como agora,
tudo não passa 
da vontade de dizer?
eu estou!    

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Rui Pedro e a Filomena que há em nós


Tal como muitas pessoas que hoje partilham esse vídeo, não conheci de perto o Rui Pedro, nem a Filomena, nem a sua família. Mas assim como tantos outros, é-me de todo impossível ficar indiferente ao sofrimento dessa mãe e de sua família. Não há, ao menos em Portugal, ninguém que nunca tenha ouvido falar no Rui Pedro ou que não se comova ao ver o rosto, cansado e triste, morto-vivo, da Filomena Teixeira. A Filomena procura pelo seu filho há 16 anos. Não sabe ao certo o que lhe aconteceu; mas não desiste. Eu também não desistiria.

Estava grávida da Malu quando acompanhei pela imprensa a história mediática do desaparecimento da Madeleine McCann. Aquilo mexeu comigo! Lia tudo o que encontrava sobre o caso, desde recortes de jornais a revistas e livros. E sinceramente, não acredito que os pais possam estar por trás do seu sumiço. Seja como for, a Kate McCann não desiste de encontrar a sua filha. Eu também não desistiria.

Desde que sou mãe, que pus cá para esse mundo cruel e colorido uma extensão de mim, sou perseguida pelo medo, o pavor, de tirarem-me uma de minhas filhas. Vigio-as nos supermercados, nos centros comerciais, nos parques infantis, nas praias... nunca, nunca as perco de vista. Mesmo em casa, mantenho a porta trancada a chave, com receio de que alguma desça pelo elevador e desapareça. É uma fobia! Mas sou da geração de Filomenas e Kates e, vendo-as vaguear entre tribunais e suplícios, imagino a dor de não saber de um filho, de vê-lo acordar e já não dormir com ele. 

É por isso que hoje, no 27º aniversário do Rui Pedro, partilho igualmente a dor da Filomena e o seu apelo. Vejo-me nela e, nesta condição, sinto que hoje a Filomena é um pouco de todos nós e o Rui Pedro um pouco filho de todos nós. Partilho-o, porque eu também não desistiria. Não. Enquanto vivesse, enquanto não o encontrasse, enquanto não soubesse o que verdadeiramente lhe aconteceu, eu não desistiria.

O vídeo tem cerca de 1 minuto. Partilhem-no. É o melhor presente que hoje podemos oferecer ao Rui Pedro. E à Filomena. E ao Rui Pedro e à Filomena que há em nós.            

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mérida: Viajar é preciso!

E por falar em Espanha, já tiveram oportunidade de conhecer Mérida? Acho que é um roteiro obrigatório para quem gosta de história ou de viajar com um cunho cultural ou, ainda, para quem tem filhos em idade escolar. Mérida é cidade capital da comunidade autónoma da Estremadura e faz fronteira com Portugal, situando-se nas imediações de Elvas (Portugal) e Badajoz (Espanha). 

Optamos por nos hospedar em Elvas, num antigo Convento convertido no Hotel São João de Deus, com diária em torno dos €55,00. Assim pudemos dividir o fim de semana entre Elvas e Mérida, ambas Património Histórico da Humanidade.

Elvas (distrito de Portalegre, Alto Alentejo) destaca-se pelo centro histórico e pelas suas famosas muralhas em formato de estrela, consideradas as maiores fortificações abaluartadas do mundo e cujo perímetro vai dos 8 aos 10 Km. Elvas foi a cidade mais fortificada da Europa, a mais importante praça-forte da fronteira portuguesa. 

Mérida, por sua vez, destaca-se pelas ruínas romanas que constituem um dos principais e mais extensos conjuntos arqueológicos de Espanha. Foi fundada em 25 a.C. com o nome de Emerita Augusta, sendo uma das mais importantes cidades da Península Ibérica durante a ocupação romana. As ruínas espalham-se um pouco por toda a cidade, de modo que é um passeio que faz todo o sentido fazer-se à pé, já que, volta e meia, nos deparamos com um monumento histórico. 

Como há muitos pontos turísticos para visitar, optamos por escolher aquilo que nos parecia mais interessante. Compramos um bilhete (ao custo de €12,00 por adulto; criança até 11 anos não paga) que nos permitiu visitar em conjunto o Teatro e o Anfiteatro (Coliseu) romanos, antigos palcos de espetáculos, lutas entre gladiadores, jogos e prática de ginástica. De lá, seguimos para o centro de Mérida e em meio às suas ruelas fomos literalmente surpreendidos pelo Templo de Diana, uma obra majestosa que nos reporta ao tempo do império e à Grécia antiga. 
    
O conjunto arqueológico de Mérida está em muito bom estado de conservação, de modo que saímos de lá com uma impressão bastante realista da época. Foi um fim de semana muito bem passado, fez-nos muito bem sair um pouco de casa e nem é preciso dizer que as crianças adoraram, desde a dormirem num hotel até a curiosidade natural, sobretudo da de 6 anos, de estarem em outro país (mesmo que ali logo ao lado!), ouvirem outra língua e visitarem a cidade da Princesa Mérida da Disney. Quando voltamos, recordamos o passeio assistindo ao filme Gladiador e até hoje a viagem é tema de conversa entre nós! 

Por tudo isto, só posso dizer que vale muito, muito à pena programar este passeio com a família. Para mais informações consultem o site Turismo de Mérida, aqui.







        

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A decifrar «Vaca Profana»

Às vezes, em meus desabafos, confesso que uma de minhas frustrações é não cantar e tocar violão. Até canto, mas com certeza não lotaria o Maracanã! Ou melhor: para ser mais realista, não lotaria o "Concerto mais Pequeno do Mundo" da Rádio Comercial. Mas adoro cantar e canto! Ainda por cima sou inconveniente, canto alto, sobreponho-me ao som original. Pronto, sou uma chata!

Digo isto porque, precisamente no domingo, estávamos nós a ouvir o DVD maravilhoso do Caetano Veloso e da Maria Gadú, quando apaixonei-me pela canção «Vaca Profana» como se estivesse ouvindo-a pela primeira vez. Pus-me então a cantar... e até hoje canto... o que levou-me a querer saber mais sobre a sua letra truncada, fascinante, que arranca já com uma frase tão aguda quanto um soco no estômago: "Respeito muito minhas lágrimas/Mas ainda mais minha risada"; do gênero: valorizo todos os meus momentos difíceis mas valorizo ainda mais o que me faz feliz. Uma sabedoria assim, tinha de vir do meu amado e lindo Caetano!

«Vaca Profana» foi lançada em 1984 e composta para Gal Costa, sendo considerada uma verdadeira ode à Espanha, especialmente à Catalunha. Tem uma poesia belíssima mas de difícil interpretação, que retrata os movimentos artísticos em voga na altura. Nessa canção, Caetano começa por exaltar a necessidade de viver acima das pessoas comuns, daquilo que é considerado normal ("Vaca profana põe teus cornos/Pra fora e acima da manada"). Não se identifica com o senso comum, com a normalidade da vida e mesmo quando confessa à sua irmã a vontade de encontrar o amor, ressalva que não o vê de forma convencional; antes pelo contrário, pretende-o excêntrico, ao estilo Thelonious Monk ("Quero que pinte um amor Bethânia/Stevie Wonder, andaluz/Como o que tive em Tel Aviv/Perto do mar, longe da Cruz/Mas em composição cubista/Meu mundo Thelonius Monk's blues"). O próprio título da canção é uma provocação de Caetano a tudo aquilo que massivamente se julga sagrado. Entretanto, avesso ao que até então critica, talvez mais amadurecido ou como resultado de um demorado processo de autoconhecimento, Caetano acaba por reconhecer que muitas vezes ele próprio age consoante as pessoas "caretas" que tanto censura ao longo da canção ("Mas eu também sei ser careta/De perto ninguém é normal"). Por fim, de forma absolutamente magistral, despe-se da arrogância e, humildemente, compadece-se, por ele e pelos outros ("Gotas de leite bom na minha cara/Chuva do mesmo bom sobre os caretas").

É, sem dúvida, uma canção que reflete bem um percurso de crescimento pessoal do Caetano veloso. Convido-os, todos, a lerem a letra com atenção e cantarem comigo «Vaca Profana».


VACA PROFANA (Caetano Veloso)

Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada 
Inscrevo, assim, minhas palavras 
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da man...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas
Segue a "movida Madrileña"
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks
Picassos movem-se por Londres
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horiz...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca de divinas tetas
La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los "puretas"
Quero que pinte um amor Bethânia
Stevie Wonder, andaluz
Como o que tive em Tel Aviv
Perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s blues
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca das divinas tetas
Teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas
Sou tímido e espalhafatoso
Torre traçada por Gaudi
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas, estamos aí
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas estamos a...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas
Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas...



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Meu Senhor do Bonfim!

No passado dia 15 (segunda quinta-feira do mês de Janeiro) aconteceu em Salvador (Bahia, Brasil) uma das festas populares que considero a mais bonita, conhecida como a Lavagem do Bonfim. Claro que o meu coração baiano e devoto não se esqueceu e passou o dia a cantarolar o Hino ao Senhor do Bonfim

Para recordar, a Igreja Nosso Senhor do Bonfim, a mais famosa igreja católica da Bahia, fica situada na Sagrada Colina, na parte baixa de Salvador (Cidade Baixa), onde se distribui as coloridas Fitinhas do Bonfim. A tradição diz que cada cor da fita simboliza um Orixá, devendo a mesma ser enrolada no pulso e atada com três nós, a cada nó um pedido, mantido secreto até a fita se romper naturalmente. E é aqui que começa a maior representatividade do sincretismo religioso da Bahia, a fusão perfeita entre o Cristianismo (predominante entre os portugueses que colonizaram Salvador) e o candomblé (predominante entre os africanos enviados como escravos para o Brasil). 

Em verdade, a imagem de Jesus Cristo - o Senhor do Bonfim -, foi esculpida no Séc. XVIII em Setúbal e levada de Portugal para a Bahia pelo capitão-de-mar-e-guerra da marinha portuguesa Theodózio Rodrigues de Faria, em razão do pagamento da promessa feita por ter sobrevivido a uma tempestade no mar. Mas a construção da igreja que veio a abrigar o santo (1745) só ficou concluída em 1772, iniciando-se a sua lavagem pelos escravos no ano seguinte como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim (segundo domingo de Janeiro após o Dia de Reis). Com o tempo, adeptos do candomblé passaram a identificar o Senhor do Bonfim com Oxalá, medida a que recorreram para burlar a proibição e disfarçar seus deuses adorando-os como santos católicos. De facto, apesar de todos os esforços, nunca foi possível eliminar os orixás e terreiros de candomblé da Bahia, os quais até hoje convivem lado a lado com o cristianismo. E deste modo, não havendo alternativa, a Arquidiocese de Salvador acabou por transferir o ritual da lavagem para as escadarias e o adro, permanecendo fechadas as portas da Igreja enquanto as baianas lavam a parte externa com água de cheiro, ao som de toques e cânticos africanos.

A Igreja do Senhor do Bonfim é passagem obrigatória para quem visita Salvador, assim como é para os baianos católicos o local sagrado de oração, de pedidos aflitos, de gratidão e de fé. Acreditem ou não, foi numa Lavagem do Bonfim (1997) que eu assisti ao encontro mais furtivo, mais festeiro e que, depois de um período duvidoso, acabou por resultar no encontro da minha amiga Anelise Pinheiro com a sua "cara metade", hoje a caminho do segundo filho do casal. Quem conhece essa história, assegura que se trata de uma bênção do Senhor do Bonfim!   

Dito isto, é por estas e outras que sempre que vou à minha Bahia, como de costume, vou ao Senhor do Bonfim renovar minha proteção e dos meus queridos, pedir resolução e agradecer pelas infinitas venturas concedidas a mim e a minha família. De lá, trago Fitinhas abençoadas e o coração transbordando de fé!



    

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O que são pessoas tóxicas?

Li um artigo muito interessante e que me trouxe um novo conceito sobre pessoa. No meu dia-a-dia, estudo à fundo o que se define como "pessoa": pessoa jurídica, pessoa natural, pessoa humana, pessoa com personalidade jurídica, mas nunca até então tinha ouvido falar em "pessoa tóxica". Não que me fosse de todo estranha a existência de pessoas tóxicas mas, intuitivamente, sempre soube identifica-las e afastar-me delas. Um qualquer sentido próprio de defesa ou sobrevivência emocional que, assim que as acusa, dispara um alarme sonoro ininterrupto que me empurra (ou as empurra!) para bem longe! Não falha. Era tão mais fácil se trouxessem sinalizado em letras vermelhas e garrafais: «Perigo: Risco de intoxicação»! Mas como não, temos de ser nós a identificar estas personas non gratas, pondo em ação todos os alertas. Leiam o texto abaixo, postado por José Batista de Carvalho. É fabuloso!

"De fato estamos cercados de pessoas tóxicas.
Pessoas que são egocêntricas, manipuladoras, interesseiras, arrogantes, rancorosas, amarguradas, mal amadas, invejosas ou fracassadas, que não conseguem ver o sucesso ou a felicidade alheia. Enfim, pessoas sombrias que minam os relacionamentos e amizades com intrigas, críticas excessivas, falta de consideração e respeito pelo outro e abusos verbais ou físicos. Pessoas muito perigosas de se conviver.
Essas pessoas tóxicas acabam, de alguma forma, nos envenenando. Direta ou indiretamente, acabamos agindo por influência delas, seja com atitudes ou omissões. Muitas vezes acabamos agindo por impulso para evitar essas pessoas, ou, na pior das hipóteses, acabamos agindo da mesma forma. São pessoas nocivas, intoxicando nosso comportamento e nos levando a agir e a tomar decisões que, em outras circunstâncias poderiam ser completamente diferentes.
São tóxicas, porque conseguem despertar o que há de pior dentro de nós, não apenas no sentido de maldade ou crueldade, mas no sentido de perdermos a identidade, a autonomia, a energia, a iniciativa e o poder de decisão. Ficamos estagnados, hipnotizados, paralisados. São verdadeiros vampiros, sem Luz própria, que consomem nossa energia vital, que exploram e manipulam pessoas de acordo com os seus interesses e vivem às custas da energia dos outros para se sustentarem. 
Tóxicas são aquelas pessoas que sabem tudo a respeito da vida das outras pessoas, mas não conseguem administrar a própria vida. Sabem dar conselhos como ninguém tem um discurso lindíssimo para o mundo lá fora, mas que, na vida pessoal, nos bastidores, na vida íntima, são pessoas frustradas, isoladas, verdadeiras ilhas no meio da sociedade, que não tomam para si os próprios conselhos. 
Sabem olhar de fora, apontar defeitos, problemas, erros. Mas não sabem participar, não conseguem enxergar os próprios problemas ou defeitos. Apontam os erros alheios para, de certa forma, esconder os seus próprios. São os “sabe-tudo” e só a sua forma de pensar é que está certa. Não suportam ser contrariados e confrontados. Quando o são, perseguem a pessoa até “livrarem-se” dela ou então se vingam. Seu ego é superlativo para compensar a sua extrema falta de Amor-Próprio. Usam as pessoas conforme seus interesses e, quando estas discordam de suas ideias, são descartadas e eliminadas, sem a menor consideração. 
A toxicidade reside exatamente no fato de não nos darmos conta de que estamos sendo manipulados ou influenciados. Ficamos hipnotizados, fascinados, imersos numa imensa ilusão, até o dia em que despertamos e tomamos consciência de que estamos muito mal, morrendo por dentro, e que algo urgente necessita ser feito. Um corte para a nossa libertação, para resgatar a nossa sanidade, saúde, alegria de viver. 
Em nossa busca pela felicidade, por tudo aquilo que nos traz bem-estar e alegria, o grande segredo é não se deixar influenciar, se afastar e evitar a convivência com esses tipos. Isso não significa alimentar sentimentos negativos dentro de si com relação a eles, mas de preferência visualizá-los felizes e agradecidos em sua vida, emanando energias e vibrações positivas. 
Reflita, você convive intimamente com alguma pessoa tóxica, seja na família, no trabalho, ou nas “amizades”? 
Tenha cuidado, afaste-se, fique longe o quanto antes dessas pessoas. 
Cuide-se, preserve-se, seja você mesmo, seja pleno e feliz. 
E acima de tudo sempre perdoe essas pessoas, muitas vezes, elas não tem consciência de seus próprios malefícios".
Fonte do texto: <http://universonatural.wordpress.com/2013/05/24/voce-convive-intimamente-com-alguma-pessoa-toxica/>.      

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Se eu fosse uma poesia: «Mãe! (Almada Negreiros)»

"Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!"

(José de Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, 1921)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Hoje falou-se português e lavou-se a alma...

Cristiano Ronaldo: Bola de Ouro'2013.

Pelé: Bola de Ouro Honorária'2013.

E fez-se justiça!



Quem foi que disse que a EMEL pode multar?

Não conheço ninguém que aceite em conformidade uma multa passada pela EMEL - Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa. E diante da cobrança, perguntam-se: "Pago ou não pago? Uma simples carta, enviada por via postal? Isto tem mesmo força executiva?". E a resposta: "Sim, Senhor! É exequível!"

A verdade é que a EMEL é uma entidade municipal que gere os parques pagos em Lisboa, equiparada a Agente de Autoridade Administrativa pelo Decreto Lei n.º 327/98, de 2 de Novembro para efeito de fiscalizar o estacionamento de duração limitada na via pública e levantar o auto de notícia, proceder as intimações e notificações. A competência para o processamento das contraordenações é da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária (ANSR), bem como, a competência para a aplicação das coimas e sanções acessórias pertence ao presidente da ANSR; no entanto, de acordo com o Art. 169.º, n.º 7, do Código da Estrada, podem ser atribuídas à câmara municipal competente para aprovar a localização do parque ou zona de estacionamento. Como acontece no caso da EMEL, que funciona como um serviço auxiliar da ANSR. 

Da mesma forma, assim como as autoridades policiais, a EMEL tem competência para proceder ao bloqueio do veículo por falta de pagamento após duas horas em infração, sujeitando-se o infrator ao pagamento da taxa de desbloqueio e de remoção do veículo (Arts. 163.º e 164.º do CE).

E mais: a notificação tanto pode ser efetuada por contato pessoal como através de carta simples ou carta registada com aviso de receção, nos termos do Art. 176.º do Código da Estrada.  

Em todo o caso, se não concordam com os fundamentos que motivam o auto de notícia, podem optar pelo pagamento em depósito e reclamar no prazo de 15 dias úteis para apresentação de defesa escrita, podendo juntar testemunhas (Art. 175.º, n.º 2, do CE). O depósito deve ser devolvido se não houver lugar a condenação (Art. 173.º do CE). 

Mas atenção: Nos termos do Art. 188.º do Código da Estrada, o procedimento por contraordenação rodoviária extingue-se ou prescreve após dois anos a contar da prática da infração, assim como as coimas prescrevem no prazo de dois anos a partir do caráter definitivo da decisão condenatória.

Portanto, por mais desagradável que seja, não há dúvidas: a EMEL tem poderes para multar!
  

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Antítese e paradoxo

É sexta-feira. O fim-de-semana está a começar. Há tanto a dizer que não me apetece dizer nada! Então ouçam-me, por favor!



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Simone de Beauvoir (1908 - 1986)

"Não se nasce mulher: torna-se".

Se estivesse viva, hoje Simone de Beauvoir faria 104 anos. Feminista convicta, Simone de Beauvoir rompeu, através da educação e dos estudos, com o destino das mulheres do seu tempo: casar e ser mãe ou entrar para o convento. Foi a mais velha de duas filhas nascidas numa família da burguesia francesa, que entretanto faliu e que, por falta de dotes, viram nos estudos a única forma de fugir à pobreza. Formou-se em filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne) e tornou-se numa das escritoras francesas mais lidas no mundo. Foi a companheira de Jean-Paul Sartre.

E para sinalizar o seu aniversário, o clássico O Segundo Sexo, publicado em 1949, é leitura obrigatória! Pode-se fazer o download em formato PDF, aqui.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Dia do Fotógrafo (e do meu marido)

Estar casada com um fotógrafo é não ter marido nos fins de semana; é vez por outra passar aniversários (seu, dele ou dos filhos) e datas festivas sem ele; é não tê-lo na maioria das fotos de família (normalmente está atrás da objetiva); é raramente ir a festas como convidada (o marido está a trabalhar); é passar o verão a "marinar" e o inverno a consolá-lo; é estar sempre a ouvir falar de luz, objetivas, diafragma, ângulos... é procurar ver uma "imagem" em tudo... e ver nos filhos um potencial sucessor...

Hoje, Dia do Fotógrafo, o meu marido está de parabéns! Digo-lhe sempre que ele não é um fotógrafo. É um artista! Pois tem uma sensibilidade enorme e sabe, lindamente, descobrir imagens com os olhos do coração. Hoje, através dele, homenageio todos os profissionais que partilham esta paixão - e, claro, as suas mulheres e filhos, como nós, gladiadores!

(Já agora, visitem o web site dos Estúdios e a sua página no Facebookaqui e aqui. Obrigada! :D). 

   

É preciso retomar...


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Xingamento (xinga a mãe, xinga o pai, xinga o escritor)

Há coisas que leio que me calam, outras me tocam e outras ainda me fazem rir. Com esta crónica (abaixo) aconteceu mais ou menos tudo isto. A medida que lia, ia arrancando risos de mim e em gesto afirmativo concordava: "É isto! Não diria melhor!" Reparo: Com exceção da última frase que acho que, ao contrário do que parece querer dizer o autor, soa um tanto quanto machista! "A mulher nem sempre tem culpa (?!)". Não se trata de uma questão de culpa, nem muito menos sexista ou ligada ao género. Trata-se, isto sim, de repor os factos e atribuir adjetivos à pessoa certa. 

Mas antes é preciso ter em conta que o autor é o ator e escritor brasileiro Gregório Duvivier, um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. É um texto escrito, digamos, "com piada"; embora nem todos concordem! Chamo atenção a isto porque, na reportagem, há uma dezena de comentários depreciativos ao conteúdo do texto, bem como ao escritor, por considerá-lo machista e inapropriado à essência do Jornal. Sinceramente, achei-os desproporcionalmente ofensivos (e nem foi preciso xingar a mãe ou a mulher de ninguém, vá lá!). Dado o devido crédito à comédia, não venham me dizer que não é assim que acontece, tantas vezes! É claro que as mulheres tem o seu próprio estatuto, há liberdade e igualdade, nem precisamos de procurador que nos defenda! Mas quem foi que se lembrou de dizer, com tanta graça, aquilo que a gente já sabe? Deixando de lado essa guerra do sexo, o texto, intitulado «Xingamento», tem imensa piada e penso que foi escrito nesse sentido. Leiam:  

"Puta, piranha, vadia, vagabunda, quenga, rameira, devassa, rapariga, biscate, piriguete. Quando um homem odeia uma mulher — e quando uma mulher odeia uma mulher também— a culpa é sempre da devassidão sexual. Outro dia um amigo, revoltado com o aumento do IOF, proferiu: 'Brother, essa Dilma é uma piranha'. Não sou fã da Dilma. Mas fiquei mal. Brother: a Dilma não é uma piranha. A Dilma tem muitos defeitos. Mas certamente nenhum deles diz respeito à sua intensa vida sexual. Não que eu saiba. E mesmo que ela fosse uma piranha. Isso é defeito? O fato dela ter dado pra meio Planalto faria dela uma pessoa pior?
Recentemente anunciaram que uma mulher seria presidenta de uma estatal. Todos os comentários da notícia versavam sobre sua aparência: 'Essa eu comeria fácil' ou 'Até que não é tão baranga assim'. O primeiro comentário sobre uma mulher é sempre esse: feia. Bonita. Gorda. Gostosa. Comeria. Não comeria. Só que ela não perguntou, em momento nenhum, se alguém queria comê-la. Não era isso que estava em julgamento (ou melhor: não deveria ser). Tinham que ensinar na escola: 1. Nem toda mulher está oferecendo o corpo. 2. As que estão não são pessoas piores.
Baranga, tilanga, canhão, dragão, tribufu, jaburu, mocreia. Nenhum dos xingamentos estéticos tem equivalente masculino. Nunca vi ninguém dizendo que o Lula é feio: "O Lula foi um bom presidente, mas no segundo mandato embarangou." Percebam que ele é gordinho, tem nariz adunco e orelhas de abano. Se fosse mulher, tava frito. Mas é homem. Não nasceu pra ser atraente. Nasceu pra mandar. Ele é xingado. Mas de outras coisas.
Filho da puta, filho de rapariga, corno, chifrudo. Até quando a gente quer bater no homem, é na mulher que a gente bate. A maior ofensa que se pode fazer a um homem não é um ataque a ele, mas à mãe — filho da puta - ou à esposa — corno. Nos dois casos, ele sai ileso: calhou de ser filho ou de casar com uma mulher da vida. Hijo de puta, son of a bitch, fils de pute, hurensohn. O xingamento mais universal do mundo é o que diz: sua mãe vende o corpo. 1. Não vende. 2. E se vendesse? E a sua, que vende esquemas de pirâmide? Isso não é pior?
Pobres putas. Pobres filhos da puta. Eles não têm nada a ver com isso. Deixem as putas e suas famílias em paz. Deixem as barangas e os viados em paz. Vamos lembrar (ou pelo menos tentar lembrar) de bater na pessoa em questão: crápula, escroto, mau-caráter, babaca, ladrão, pilantra, machista, corrupto, fascista. A mulher nem sempre tem culpa".
(Gregório Duvivier)
Fonte: Publicado no periódico Folha de S.Paulo, de 06.01.2014.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O futebol em luto


"Um dos melhores jogadores de todos os tempos" (Marca), "mais do que um monumento" (Mundo Desportivo), "ícone do futebol português" (El Mundo), um "ídolo" (Folha de São Paulo), um "craque" (O Globo)...

Assim a imprensa internacional noticia a morte de Eusébio, o Pantera Negra, ocorrida na madrugada deste Domingo, perto de completar 72 anos de idade. E enaltece o grande futebolista, o homem grandioso! 

Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014), honra e glória!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Cheiro a lembrança!

O melhor de tudo é ter presente o cheiro bom de lembrança. Somente quem coleciona memórias, como eu, incorrigível, compreenderá ao certo o sentido do que digo. 

Sou feita de cheiros! Cheiro ao café moído da avó, servido em caneca com bolachas de côco besuntadas em manteiga... Cheiro a terra molhada, a chuva tropical... Cheiro a cacau a secar na estufa, a banho de rio... Cheiro a mar, a livros... Cheiro ao Senhor do Bonfim, a Coimbra... Cheiro a Lisboa, a toalhitas Dodot, a sopa, a leite, a cocó de bebé... Cheiro a desespero e a esperança... Cheiro a milhares de cremes, a material de limpeza, a roupa lavada... Cheiro a abraços, a beijos, a lágrimas, a sorrisos... Cheiro a aeroportos, a chegadas, a partidas… Cheiro a primos... Cheiro a amor e a saudade... 

E assim, por onde passo, vou deixando e vou levando os cheiros que me vão formando. O cheiro do lugar, das pessoas, o cheiro da vida, toda ela, impregnada de tantas vidas! 


Ano Novo, Código da Estrada Novo!

Vamos reabrir o ciclo de nossas conversas apontando um assunto sério e importante. Em Portugal o ano começou com a vigência do Novo Código da Estrada, que traz mais controlo no abuso do álcool (principalmente para os encartados a menos de 3 anos e os condutores profissionais, cujo limite é de 0,19 gr/l) e mais liberdade para os ciclistas; é mais detalhado quanto às regras de circulação nas rotundas e só permite a utilização de telemóveis pelos condutores dotados de um único auricular, cuja multa em caso de transgressão foi acrescida, podendo variar de 120 a 600 euros.

O Novo Código de Estrada é, ainda, menos restritivo no transporte de crianças: as que tenham menos de 12 anos e mais de 135cm podem deixar de utilizar o banco elevatório e viajar apenas com o cinto de segurança, deixando de prevalecer a regra dos 150cm.

E para ficarem a saber mais, é bastante elucidativo este resumo publicado no Público, edição de 31-12-2013, transcrito na íntegra: