Há quem diga que o ano só começa depois das férias, o que não deixa de ter a sua lógica! No Brasil, por exemplo, só começa mesmo, mesmo, depois do Carnaval, lá para Fevereiro ou Março! Mas da Bahia de onde eu venho, nunca sem antes estar tudo lavadinho, desde as escadarias do Bonfim ao Rio Vermelho, perfumado com água de cheiro, flores e as bênçãos de Iemanjá. A bem da verdade, depois disto tudo, começam os ensaios para o próximo Carnaval, que se vai afinando Micareta afora. Ora, preparar a maior festa popular do mundo é coisa que exige labor!
Daí porque, aborreço-me quando ouço dizer que baiano não trabalha! Acham mesmo que conciliar tanto talento com sol, mar, acarajé e um ofício pelo meio não é trabalhoso? Aliás, na Bahia, trabalhar divertindo-se é modo de vida, razão que leva o meu marido a cismar em querer ser baiano - e nisso já não me meto! É claro que conheço umas almas que "não batem um prego numa estopa", mas tanto lá como aqui! Portanto, tenho de reconhecer que viver assim é para poucos, senão por privilégio, só mesmo por mazela da natureza.
Seja como for, tenho saudades daqueles verões metidos a verões, com Carnaval e tudo, como se não fosse assim o ano inteiro! Mas agora a realidade é outra e, para ser sincera, rogo para que o verão com ar de Agosto e férias escolares seja finito: escola, trabalho, fins-de-semana no lugar dos fins-de-semana, cada coisa no seu sítio!
É que, por cá, sem ter por marco institucionalizado o Carnaval, as nossas férias oficiais há tempos já terminaram e assim vamos trabalhando a meio das férias prolongadas das crianças, o que de certa forma nos obriga a inventar formas de sermos todos felizes, de nos desculparmos se não nos apetece fazer niente com esse sol que brilha prenunciando o inverno que não tardará. Do Agosto, queria que nos deixasse ficar a temperatura em torno dos 30º e já bastava!
Agora, sem ter nada a ver com a minha condição, hão de entender que custa-me imenso trabalhar em Agosto, ou melhor, no verão! Com esses dias quentes que ainda mais me remetem aos meus verões tropicais, apetece-me é passear, apetece-me até descer o Mondego à remo, de modo que fico deprimida quando vejo de soslaio os amigos em esplanadas ensolaradas ou em viagens de aventura, exibindo sorridentes os corpos bronzeados entre um mergulho, uma escalada, uma caipirinha e um mojito.
Lembram-se da fábula da formiga que passava o verão a armazenar comida para o inverno? Pois bem, há pouco fui recordada que tenho uma tese para produzir, mas além disso, tenho quase sozinha uma família para gerir, pois no que toca ao marido fotógrafo, no verão é quando há mais casamentos. Moral da história: só na Bahia, onde o verão coincide com o Carnaval e dura todo o ano, cigarra canta e formiga bate-palma!
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