terça-feira, 15 de julho de 2014

Este blog está de férias

Queridos leitores,

Não é por falta de assunto mas já devem ter notado que o blog anda meio parado. Com muita pena minha. A verdadeira razão não é esta, contudo, também vamos de férias. Bem, costumo dizer que quando vou ao Brasil não vou propriamente de férias; vou cumprir a vontade do meu coração e, bem no fundo, resolver questões adiadas. Volto em pedaços, aí sim, a precisar de férias. Mas as crianças adoram, já estão em êxtase, contando os dias, os minutos... e os dias que antecedem é uma correria desatada: passaportes, autorização de viagem, autorização disso, daquilo... pensar no que levar, fazer malas, adiantar o trabalho... e rezar... rezar para que elas se portem bem, aguentem cerca de 8 horas de viagem de avião sem perguntarem de 5 em 5 minutos: "- Já chegamos? Falta quanto?". Adorava dizer-lhes que falta pouco mas é tão longe... tem um mar inteiro à nossa frente. Serão 30 dias só nosso: meu e delas, com a parte da minha história, meus lugares, meu céu estrelado. 

Enquanto isto, quando puder mando notícias. E sim, é verdade, também irei ao Bonfim. :)  

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Perder, Ganhar, Viver (Drummond, por nós, 32 anos depois)

Foto: Pedro Bolle / USP Imagens
Em tempos de futebol e goleadas, ocorreu-me uma crónica do inesquecível poeta Carlos Drummond de Andrade, publicada em 7 de Julho de 1982, no Jornal do Brasil. Drummond era aficionado por futebol e escreveu inspirado na eliminação da seleção brasileira do Mundial de 82, depois de sofrer uma derrota por 3 a 2 para a Itália. O povo estava inconformado, um sentimento de frustração coletiva que só se viu antes com a perda do Mundial de 50 por 2 a 1 para o Uruguai. Nada, entretanto, comparável a recente eliminação da seleção brasileira do Mundial que decorre, por 7 a 1 para a Alemanha. Na verdade, Drummond, com a sua sensibilidade, chamava o povo à realidade, lembrava a todos que há vida para além do futebol... e que é preciso continuar. Lendo o texto do Drummond, não pude deixar de notar, 32 anos depois, que hoje passa-se exatamente o que Drummond viu em 82. Mas, sobretudo, vi nesta crónica,  claramente, a perceção de Drummond daquilo que suplanta o futebol. Mais do que de futebol, Drummond fala de perdas, de derrotas, de aprendizagens e de recomeços. Fala de vida, da vida que segue em frente e que realmente importa.   

Vamos, então, recordar Drummond, já que, ao que tudo parece, a história sempre se repete.
Perder, Ganhar, Viver
Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados para a alegria; vi o técnico incansável e teimoso da Seleção xingado de bandido e queimado vivo sob a aparência de um boneco, enquanto o jogador que errara muitas vezes ao chutar em gol era declarado o último dos traidores da pátria; vi a notícia do suicida do Ceará e dos mortos do coração por motivo do fracasso esportivo; vi a dor dissolvida em uísque escocês da classe média alta e o surdo clamor de desespero dos pequeninos, pela mesma causa; vi o garotão mudar o gênero das palavras, acusando a mina de pé-fria; vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubada um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições; vi a aflição dos produtores e vendedores de bandeirinhas, flâmulas e símbolos diversos do esperado e exigido título de campeões do mundo pela quarta vez, e já agora destinados à ironia do lixo; vi a tristeza dos varredores da limpeza pública e dos faxineiros de edifícios, removendo os destroços da esperança; vi tanta coisa, senti tanta coisa nas almas...
Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade autuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.
Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos? Se a Seleção fosse à Espanha, terra de castelos míticos, apenas para pegar o caneco e trazê-lo na mala, como propriedade exclusiva e inalienável do Brasil, que mérito haveria nisso? Na realidade, nós fomos lá pelo gosto do incerto, do difícil, da fantasia e do risco, e não para recolher um objeto roubado. A verdade é que não voltamos de mãos vazias porque não trouxemos a taça. Trouxemos alguma coisa boa e palpável, conquista do espírito de competição. Suplantamos quatro seleções igualmente ambiciosas e perdemos para a quinta. A Itália não tinha obrigação de perder para o nosso gênio futebolístico. Em peleja de igual para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da volubilidade das coisas.
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.
E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade? 
Fonte: Blog Bola e Arte 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A correr, a correr...


Queria mais horas no dia. Era mesmo capaz de reivindica-las, tipo numa manifestação de greve de fome. Mas se calhar ninguém me ouvia, ainda era castigada pela infâmia. Às vezes sinto-me improdutiva, que horror,  não consigo fazer o dia render. Logo vêm as amigas no mesmo estado e riem-se, dizem-me que só posso ser maluca, ainda meto-me em mais coisas, que disparate. Se calhar têm razão. Amuo, brigo, falo em divisão equânime, em conquistas, ameaço que vou fazer menos coisas. Não consigo. É que tenho medo do futuro, do futuro. Devo sofrer de uma síndrome qualquer. Ainda por cima, bati com a porta do carro em minha própria cara, tenho nódoas negras e os olhos a sumir de inchaço. No meio disso tudo quero correr, sinto falta de tempo para correr, oh céus, é o meu pedacinho de tempo. Pode dar-me só mais um pedacinho de tempo, se faz favor? Prometo que termino a escrita, abro um negócio e cuido de tudo o resto. Não que isto seja certo, nem concordo, mas ando a procura da balança. Devo tê-la avariada, perdida num canto da bagunça da garagem, o lugar das coisas descontinuadas. Maldita balança! É que os desafios me estimulam. Então, avanço ou perco tempo a tirar medidas? Não me parece que seja isto. Amanhã, amanhã eu corro... e na próxima semana, na próxima semana eu compenso o que estiver em atraso. Está prometido.