segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Praia do Martinhal

Gosto do verão! Não me importava que fosse sempre verão, todo o ano. Adoro a luz do sol, a liberdade do sol, o calor do sol! E adoro tudo isso, quando o cenário é uma bela praia.
 
A esse propósito, tenho algumas praias memoráveis: Praia do Forte, Morro de São Paulo, Algodões, Copacabana, Tarifa, Hurghada, as de São Luís do Maranhão, Nice, Saint-Tropez... É difícil dizer qual a mais bonita, mas uma em especial me tira o fôlego sempre que a visito: a praia do Martinhal, no Algarve. Com a vantagem de ficar a apenas dois quilómetros de Sagres e assim poder encerrar o dia a contemplar o pôr do sol no Cabo de São Vicente, o extremo sudoeste de Portugal continental e, segundo soube, mais próximo do Brasil. Imaginem só o meu saudosismo sempre que, de lá, o meu olhar atinge a linha do horizonte!
 
Pois bem, é por aqui que ando, nesses dias de férias de verão. É por aqui que me escondo, que me aninho, que refaço os caminhos, que projeto e que vou ficando, a tentar não me acostumar com o ócio.
 
  
 

domingo, 21 de julho de 2013

De férias!

Uma mulher vai de férias e não leva os seus vestidos "giros", nem saltos altos ou maquiagem. Leva fraldas, termómetro, brinquedos e uma mala cheia de roupas das crianças porque ninguém quer tratar deste assunto. Mas leva dois livros que comprou com este propósito, nada jurídico, que com alguma sorte e disposição lerá.
 
Vai com toda a família para o Algarve, por duas semanas, todos juntos a tempo inteiro. O marido vai a procura de vento, a mulher de brisa, as crianças de diversão continuada. Vez por outra, ela virá aqui, no blog que escreve para se divertir. Mas não muito, é suposto estar de férias! Ainda mais que outro dia uma das rebentas perguntou-lhe: "Mamãe, quando é que tens tempo para mim?". Partiu-lhe o coração! Só não o suficiente para ceder às suplicas do campismo, pelo menos enquanto a caçula não se entretém com algo por mais de 10 minutos.
 
Antes, fez o bolo de banana preferido da família, que logo partilhará convosco! Depois, recarregada de sol e mar, enfrentará feliz os papéis e arquivos que ficam a lhe aguardar. 
 
Au revoir, meus amigos!
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mas por que o Brasil não legisla?

Em 5 de Maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, no julgamento da ADIn 4277 e da ADPF 132. Argumentou-se que a Constituição Federal impede a discriminação em razão de sexo, cor ou religião e nesse sentido ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual.

No dia 14 de Maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução nº 175, que obriga todos os Cartórios do país a celebrar casamento civil e converter união estável em casamento entre casais homossexuais, desta forma removendo os obstáculos administrativos ao cumprimento da decisão do STF.

Por sua vez, Portugal foi o oitavo país no mundo a permitir o casamento por casais do mesmo sexo, com a Lei nº 9/2010, de 31 de Maio, consagrando este ano a possibilidade de co-adoção pelo outro cônjuge ou unido de fato.

A co-adoção por casais do mesmo sexo também vem sendo permitida no Brasil por meio de entendimento jurisprudencial, um pouco espalhado pelos Tribunais dos Estados da Federação e mais recentemente confirmado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Observando este quadro, fico a pensar por que o Brasil não legisla?! Tem sido assim nas situações mais controvertidas, como no caso da interrupção da gestação de feto portador de anencefalia, autorizada em face de Acórdão do STF, enquanto que em Portugal a hipótese é contemplada no Código Penal; da cirurgia de transgenitalização, realizada na rede hospitalar pública brasileira também com apoio jurisprudencial e em Resolução do CFM, enquanto que em Portugal a situação se encontra devidamente legalizada;  e do testamento vital, que conta com lei específica em Portugal, enquanto que no Brasil é aceito com base em outra Resolução do CFM, somente para citar alguns dos exemplos que venho referindo aqui.

Mas há muitos outros assuntos importantes a espera de lei própria ou quiçá de inclusão de tratamento num Código, como é o caso, por exemplo, da reprodução medicamente assistida, que ao contrário também está manifestamente regulamentada em Portugal. Só para mencionar as questões de que mais me ocupo!

Curiosamente, inúmeros Projetos de Lei tramitam no Congresso Nacional brasileiro objetivando o tratamento dessas matérias... que nunca chegam a Leis, dificilmente chegam a ser apreciados. E por quê? Seria, talvez, por falta de coragem para o enfrentamento das questões que geram mais discussão e divide a sociedade? Ausência de juristas no Poder Legislativo? Seria mesmo falta de vontade política? Ou estaria o povo brasileiro mal representado? Sinceramente, não sei, não percebo e por mais que tente, de nada me convenço! É possível que tenhamos leis a mais, mas poucas leis com sentido prático e útil!

Não quero de todo referir-me a Portugal como um exemplo, mas considerando que é a minha realidade mais próxima, acho que neste aspecto deve servir de inspiração ao legislativo brasileiro. A legislação do Brasil não avança em questões pontuais que em maior ou menor escala têm preocupado o mundo inteiro neste século XXI, demonstrando inclusive uma tentativa de regressão em episódios paralelos como o Estatuto do Nascituro e a Cura Gay. E isto não faz sentido!

Sem contar que gera despesa pública e ocupa a máquina administrativa com assuntos claramente destinados a servir de cabide eleitoral, pergunto: Até quando será assim? Até quando o Judiciário suprirá a inércia do Legislativo brasileiro?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

"Quem mexeu no meu queijo?", de Spencer Johnson, é imprescindível para adultos e crianças

Tenho um arquivo de coisas que me marcaram profundamente. Normalmente, quando por vezes procuro respostas, compro livros que pareçam querer dizer algo, atraída pelo título ou pela sinopse. Há quem faça terapia! 

Uma dessas coisas que tenho guardada com significado é o livro "Quem mexeu no meu queijo?", um best sellers do autor Spencer Johnson. Tem uma leitura muito simples e de fácil compreensão, de modo que é possível lê-lo em um dia e relê-lo vezes sem conta, tantas quantas forem precisas. Considero-o de leitura obrigatória e uma excelente escolha para quem vai de férias, para descomprimir com um livro menos denso. Mas é acima de tudo um livro motivador, muito utilizado inclusivamente no campo da gestão. 

Por acaso, descobri na Feira do Livro de Lisboa a mesma obra escrita numa versão para crianças, ilustrada e colorida, uma delícia! A ideia é ensinar os mais pequenos a lidarem desde cedo com as mudanças, através da história de quatro ratinhos em busca do queijo mágico, até que uma manhã descobrem que o queijo que parecia durar para sempre, desapareceu. Já está no meu arquivo.

Ambos podem ser adquiridos facilmente pela Internet ou nas livrarias. Confiram a sinopse, é a minha dica que refiro como imprescindível:
"Quem mexeu no meu queijo? é uma parábola que revela verdades profundas sobre mudanças. Dois ratinhos e dois homenzinhos vivem em um labirinto em busca de queijo - metáfora para o que se deseja ter na vida, de um bom emprego à paz espiritual. Um deles é bem-sucedido e escreve o que aprendeu com a sua experiência nos muros do labirinto. As palavras rabiscadas nas paredes  ensinam a lidar com as mudanças para viver com menos estresse e alcançar mais sucesso no trabalho e na vida pessoal. Quem mexeu no meu queijo? é uma leitura rápida, mas suas ideias permanecerão por toda a vida".   

terça-feira, 16 de julho de 2013

O direito de decidir sobre cuidados de saúde: testamento vital ou diretivas antecipadas

Ao comentar sobre a eutanásia, aqui, fiz uma breve referência sobre a faculdade que a pessoa adulta e capaz tem de recusar tratamento médico, mesmo que a consequência seja a própria morte. E como foi dito, esta liberdade ou direito de escolha deve ser fruto de uma decisão responsável, séria e informada. O consentimento informado funciona como o limite da obrigação jurídica de curar, mas é necessário que a recusa do doente ao tratamento seja livre de erros, como pode acontecer caso não tenha o claro conhecimento da situação em que se encontra.

No entanto, a maior dificuldade encontrada para fundamentar a vontade do doente tem a ver com os pacientes menores, irreversivelmente inconscientes ou sem condições de decidir de forma responsável. Nessas circunstâncias, deve-se obter o consentimento através dos seus representantes legais ou recorrer à sua vontade presumida, por exemplo, manifestações antecedentes, convicção religiosa, etc.

Isto só acontece porque a Medicina moderna está preparada para manter a vida de pessoas sem nenhuma esperança de cura, durante dias ou até muitos anos. Resta saber se é este o real interesse de quem se encontra numa situação terminal e se é dever assegurar a vida em qualquer condição.

Neste contexto, é muito importante a forma assumida pelo pedido de eutanásia, qual seja, o testamento vital – documento onde se estabelece os procedimentos médicos a adotar em determinadas ocasiões – ou a procuração para tomadas de decisões em questões médicas – documento onde se indica outra pessoa para decidir em nome do doente, quando este já não tiver condições de fazê-lo.

Os Estados Unidos são pioneiros na aceitação das diretivas antecipadas, com a primeira lei referente ao assunto aprovada no Estado da Califórnia, em 1976. Diferentemente, na Europa a maioria dos países não reconhece valor jurídico aos documentos de última vontade e nem permite legalmente a prática da eutanásia.

Especificamente em Portugal, somente no ano passado foram permitidas legalmente as diretivas antecipadas em matéria de cuidados de saúde – Lei nº 25/2012, de 16 de Julho –, cujo documento é lavrado em Cartório Notarial por qualquer pessoa maior e capaz. É revogável e alterável a qualquer momento, além de dever ser renovado de cinco em cinco anos, sob pena de caducidade.

No Brasil, embora não haja legislação específica, também desde o ano passado se reconhece eficácia ao testamento vital, com base na Resolução CFM nº 1995/2012, de 9 de Agosto. Esta Resolução do Conselho Federal de Medicina permite ao Médico registar, no prontuário do paciente, as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente comunicadas. Contudo, e apesar de significar um avanço, é imprescindível a edição de uma lei regulamentando sobre procedimentos importantes, tais como a capacidade do signatário, registo em Cartório e prazo de validade.

Assim, formalmente, o indivíduo maior e capaz pode definir os limites terapêuticos numa fase terminal de vida, como não ser submetido a tratamentos extraordinários quando já não existe possibilidade de reversão do quadro da doença.

O maior problema, sem dúvida, prende-se ao tratamento dos pacientes inconscientes que não deixaram orientações formalizadas. A questão torna-se mais complexa quando o doente, embora inconsciente, não se encontra “à beira da morte”, como no estado vegetativo persistente (EVP). De um modo geral, a não prossecução de tratamentos médicos em situações de EVP é correntemente afirmada pela classe médica, com fundamento na impossibilidade de vida autónoma desses pacientes, na ideia de futilidade do tratamento e na vontade do doente. A praxis entretanto impõe que se deixe transcorrer doze meses para a confirmação do prognóstico, antes de se tomar a decisão. Sobre o assunto, tem grande interesse o Relatório sobre o Estado Vegetativo Persistente, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), em Portugal.

Outra questão muito discutida refere-se aos doentes de mal de Alzheimer, relativamente ao direito dessas pessoas, ainda em consciência, manifestar o tipo de tratamento que desejam receber quando a doença já lhes tiver retirado toda a capacidade de memória e discernimento. Como então resolver o conflito entre a autonomia de um doente demente e a autonomia de um doente que se tornou demente? Predomina a ideia da prevalência de uma autonomia precedente, segundo a qual as decisões passadas de uma pessoa que veio a se tornar demenciada devem ser respeitadas.

Apesar de gerar grandes discussões, a aceitação das diretivas antecipadas traz mais consequências benéficas do que o contrário, tanto para o paciente como para o Médico, para a família do doente e mesmo para a sociedade. E por todas estas razões, encontra sólido fundamento ético e jurídico.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Bacalhau à Brás, uma maravilha da culinária portuguesa

Em Portugal, costuma-se dizer que há 1001 maneiras de preparar o bacalhau e quem conhece a culinária portuguesa sabe que é verdade. Depois de séculos de experiência, os portugueses tornaram-se sem dúvida especialistas nessa arte. O Bacalhau à Brás é apenas um prato típico português de bacalhau, e um dos mais populares, cuja receita provavelmente terá sido criada por um taberneiro de nome Brás, do Bairro Alto, em Lisboa.
 
Na minha opinião, é um dos mais saborosos e fáceis de preparar, mas tenho de ressalvar que, verdadeiramente, há quem considere um crime gastronómico fazê-lo da forma como o faço. Isto porque o legítimo Bacalhau à Brás deve ser demolhado (dessalgado) e desfiado pelas próprias mãos do cozinheiro, assim como fritas as batatas palha (em palitos com cerca de 3 milímetros de lado, no máximo!). Mas, pelo que me apercebo, desde que inventaram as batalhas palha em pacote e o bacalhau já demolhado, sem espinhas e desfiado, vendido de norte a sul do país, não conheço um só ser vivente que prepare-o tal como manda o protocolo. Eu até sou fidedigna às tradições, no entanto, se é para facilitar a vida  sem prejuízo do sabor, não vejo razão sincera para não evoluir.
 
Assim, considerando que este não é propriamente um blogue de culinária (talvez de tudo um pouco!), trago-vos o Bacalhau à Brás tal como aprendi e venho lentamente aperfeiçoando na medida dos ingredientes (ponho mais bacalhau em relação aos outros ingredientes e acho que fica com o gosto mais apurado). O marido aprova, eu adoro e tenho certeza que quem ainda não o conhece vai prepará-lo sem dificuldades... e se deliciar! Então, vamos à receita (para 4 pessoas) e bom proveito, como se diz por aqui!
 
Ingredientes
500g, aproximadamente, de bacalhau demolhado (dessalgado), desfiado e sem espinhas
500g, aproximadamente, de batalhas palha (eu costumo reduzir a quantidade para cerca de 300g)
4 ovos grandes
2 cebolas (ou 3, se preferir)
1 dente de alho
1 folha de louro
sal
pimenta
azeite
salsa
azeitonas pretas (ou ao critério)
 
Modo de fazer
Cortam-se as cebolas em rodelas finas e pica-se o alho. Num tacho (panela) grande, refoga-se as cebolas e o alho lentamente em azeite (numa quantidade que cubra suficientemente o fundo do tacho), com a folha de louro, até as cebolas dourarem. Junta-se o bacalhau e mexe-se com uma colher de madeira até que fique tudo bem envolvido. Acrescentam-se as batatas e por fim, com o tacho ainda sobre o lume brando, os ovos previamente batidos (ligeiramente) e temperados com sal e pimenta. Mexe-se continuamente até os ovos se tornarem cremosos e cozidos. Passa-se o bacalhau para um prato ou travessa, polvilha-se com salsa picada e decora-se com azeitonas. É servido bem quente e dispensa acompanhamentos (a não ser um bom vinho!).
 


       

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Minha vida de emigrante", por Yalu Miranda

Em tempos, apresentei aqui o romance Batalha de Mestre, de Achel Tinoco, baseado na história de vida do seu irmão Yalu Miranda e nas dificuldades que enfrentou nos Estados Unidos como emigrante em busca de seu sonho pessoal. Desta vez convidei o próprio Yalu Miranda para contar-nos na primeira pessoa um pouco de sua experiência e dos sentimentos que lhe moveram a abandonar a família, os amigos e o emprego insuficiente, rumo ao desconhecido.
 
Achei propício, porque esses dias muitos leitores se identificaram com o post "Notícias de além mar!", onde relato a minha reação (e de certa forma a do meu pai!) ao que seria viver num país constantemente balançado pelos indicadores de retração económica. Nascer e crescer sob o medo da "crise" nos faz criar maneiras de conviver com ela quase de forma pacífica, mas não acomodada. Esta falta de comodidade que um país em crise económico-social proporciona sobretudo aos mais jovens é que muitas vezes impulsiona o fenómeno da emigração, como forma de desbravar outros horizontes e buscar, para além das fronteiras territoriais, aquilo que já se faz escasso, quiçá tornando-se competitivos e regressando em melhores condições.
 
Yalu Miranda agora prepara-se para regressar às suas origens, independentemente das notícias que lhe chegam de lá. E que diferença isto faz, para quem habituou-se aos pedregulhos no caminho?    
"Emigrante é a pessoa que se muda de maneira voluntária para viver em um outro local. É justo afirmar que o emigrante é sempre movido pelo desejo de realizar um sonho. Comigo não foi diferente. Cheguei nos Estados Unidos em março de 1997 com um sonho: fazer um Mestrado.
Naquela manhã fria de 22 de Março, desembarquei no Aeroporto Internacional Dulles, no Estado da Virgínia. Não sabia falar nada do idioma, então naturalmente o nervosismo já se fez presente mesmo antes de encarar o Oficial de imigração. Conferidos todos os documentos, o 'Tio Sam' me deu as boas-vindas.
Naquele momento não sei expressar muito bem o que sentia. Estava alegre e ao mesmo tempo triste. Alegre pela esperança da realização de um sonho, de experimentar o novo, de abraçar novas oportunidades, enfim, de 'conquistar a América'. Triste, por ter deixado para trás a vida costumeira, a família, os amigos, a vida social, o espaço conquistado e todas as facilidades de viver em solo pátrio.

Os sentimentos se misturavam, pois ao mesmo tempo em que pensava na alegria das conquistas, vinham as muitas dúvidas de como alcançá-las. Já encarando a nova vida, acho que como todo emigrante, me sentia 'cabreiro', desconfiado, sem conhecimento e com todas as incertezas possíveis. A falta de ambientação sociocultural e a consequente rudeza do dia-a-dia certamente me tiravam a qualidade da vida de outrora. Mas a esperança de um porvir com experiências e descobertas interessantes sempre superavam as lembranças da realidade dura que estava enfrentando.
A medida que a vida ia acontecendo, eu ia aprendendo e valorizando novos conhecimentos, experiências e valores culturais. Com o primeiro trabalho, apesar de simples e cansativo, veio uma sensação gostosa de 'eu estou fazendo acontecer'. Outros trabalhos simples e cansativos vieram e eu, pouco a pouco, ia estabelecendo os meios para alcançar o meu objetivo final. A vida, então, ia começando a se tornar mais prática e mais dinâmica e apesar das dificuldades eu percebia que estava avançando.
A comparação era sempre inevitável mesmo nas coisas que poderiam ser caracterizadas como banais: infraestrutura, casas, canteiros, particularidades da língua, perfil das pessoas, hábitos e costumes, clima, etc. Muito se passava em minha mente, mas tudo ia se traduzindo num sinal de adaptação à nova realidade. 
Então, e de repente, como alguém que no meio de uma tempestade começa a perceber que o pior já passou, eu ia abraçando o que me fazia bem, o que percebia como certo, e ia repensando velhos conceitos. Com isso eu fui abrindo a visão para uma outra vida, talvez não nova, mas diferente. O medo do desconhecido e as incertezas do caminho iam pouco a pouco dando lugar à convicção de que o objetivo estava ao alcance. Já não sofria tanto com as mudanças e comecei a encará-las como uma nova forma de aprendizado que estava trazendo um novo sentido para a minha vida. 
No dia 17 de Maio de 2003 conclui o Mestrado em Comércio Internacional e Políticas, na Universidade George Mason, no Estado da Virgínia, Estados Unidos. Impossível descrever a sensação de satisfação, alegria e de dever cumprido!
Como emigrante, a minha experiência foi naturalmente cheia de altos e baixos, alegrias e tristezas, certezas e deceções; mas, também posso afirmar que foi simplesmente fantástica, principalmente por ter imposto a mim mesmo um grande desafio e ter tido a coragem de correr todo o risco. Concluo com uma citação de Damário da Cruz, que para mim faz todo o sentido: 'a possibilidade de arriscar é que nos faz homens; um voo perfeito no espaço que criamos; ninguém decide sobre os passos que evitamos; certeza de que não somos pássaros e que voamos; e a tristeza de que não vamos por medo dos caminhos'". 
 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O marido fez anos e decretamos feriado!

Ontem folguei, quero dizer, folgamos! Deixamos as meninas e tiramos o dia só para nós os dois. É que foi aniversário do marido e nós fugimos, escondemo-nos, como fazem as crianças traquinas. E soube muito bem! Apesar dos anos terem trazido algumas rugas e cabelos brancos (só no marido!), continuamos achando graça um do outro, brincamos e adoramos estar juntos... O que é isto, senão o amor?
 
Parabéns para ti, marido! E para nós, que temos a ti!
 


 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A minha pequena e tímida bailarina!

Vamos falar de coisas amenas! Estou cheia de orgulho da minha primogénita, um orgulho que não cabe neste post! E por duas razões:
 
Arrancar um sorriso da Malu tanto pode ser uma coisa fácil como a mais difícil do mundo. A Maluzinha, não parece, mas é uma criança tímida. Levei algum tempo para perceber isto e confundia a sua relutância em cumprimentar as pessoas como má-educação, até que um dia ela me explicou: "Mas mamãe, eu fico roca, a minha voz não sai!". Também a Educadora concluiu, na Grelha de Observação dos 5 anos: "A Malu expressa-se oralmente de forma adequada à sua idade. Revela alguma dificuldade em colocar as suas dúvidas e questões devido à sua timidez". Passei a dizer-lhe que ela não tem que desenvolver a conversa, mas apenas responder quando alguém lhe dirige a palavra. Ser tímida é diferente de ser mal-educada. Não sei se ela entendeu muito bem!
 
Em todo o caso, ontem a Malu rompeu com a sua timidez e se apresentou para a plateia lotada do Teatro Tivoli, naquele que foi o seu primeiro espetáculo de ballet e os seus primeiros 10 minutos de fama. A Maluzinha não sorriu, mas não importa, foi uma corajosa e linda bailarina! Mesmo assim, lá largou uma das suas: "Mamãe, eu só vou fazer ballet até aos 7 anos. Depois, quero ir para a ginástica acrobática". Enfim, talvez este tenha sido o primeiro e o penúltimo espetáculo de ballet da Malu!
 
Outro motivo que me deixa muito feliz é o fato da Maluzinha ter uma "amiga preferida". A sua amizade com a Mariana já dura 2 anos, ou seja, quase metade da vida de ambas, e é admirável como elas se gostam, são leais uma com a outra, sentem saudades e necessidade de estarem juntas. Por conta delas, eu e a mãe da Mariana, a Paula Fragata, também nos tornamos grandes amigas. E claro que a Marianinha foi prestigiar sua amiga preferida, realizando depois mais um dos sonhos da Malu, que era trazer uma amiga para dormir à casa! Emocionou-me a alegria da Malu e a sua sincera gratidão ao murmurar: "Obrigada, Paula!". Ainda assim, sentindo que deveria retribuir a gentileza, já advertiu: "Mas eu só vou dormir na casa da Mariana quando eu tiver 6 anos!". Sim, porque com 6, já vai estar suficientemente crescida a minha pequena e tímida bailarina!
 
  

 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Notícias de além mar!

No passado dia 2, recebi um e-mail de uma amiga querida, dando-me notícias do Brasil. Dizia assim:
"Oi Nubinha,
E aí, como está? Espero que em paz e com saúde... Já viu como está nosso país? Um caos, o povo nas ruas, bombas de gás lacrimogênio, tiros de borracha e depredações. Hoje várias estradas foram fechadas. Para completar Dilma insiste em plebiscito. Acabou de enviar mensagem ao Congresso. Sei não! Será que caminhamos para uma segunda Venezuela, Bolívia ou mesmo Argentina? Ainda há pouco o Jornal falava sobre a queda da produção industrial pelo quarto mês consecutivo. A inflação começa a aparecer novamente, mesmo de forma discreta. A coisa tá ficando complicada. Como dizem os cartazes nas ruas: 'O povo acordou'.
E as nossas lindas meninas? Beijos nelas. Diga a Lu, que mando um 'abraço apertado, um sorriso dobrado e um amor sem fim'".
E pensei: "Logo agora que estamos consensualmente de olho no lado de lá!". Respondi-lhe rapidamente, mais ou menos assim: 
"... Não sei, mas estamos naquela 'se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'. Porque aqui a situação do país não é melhor. O Governo tá caindo, Ministros se demitindo, querem eleições antecipadas, o povo nas ruas, o caos também... Acho melhor irmos para a China!".

Claro que brinquei com a situação! Mas depois fui pensar melhor no assunto, que por sinal não tem graça nenhuma! Eu devo primeiramente esclarecer que a minha amiga é assumidamente de "Centro mais para a Direita" (se é que isto é possível!) e, como é óbvio, nunca simpatizou com nenhum Governo inclinado a posições "esquerdistas". E devo também dizer que eu, ao contrário, a dada altura da minha vida tornei-me defensora das causas sociais mais populares, do tipo "cara pintada" ou "Centro mais para a Esquerda" (se é que isto é possível!).

Não foi sempre assim, visto que fui educada por um pai trabalhador mas que “subiu de classe”, razão suficiente para que, sem nenhuma noção coerente de política, passasse a “preferir” os ideais favoráveis à sua condição de empregador. Talvez este upgrade em minha vida coincida com o meu ingresso na Faculdade de Direito e com o fato de ter amigos das mais diversas fações, o que contribuiu para que eu elaborasse algum esclarecimento sociopolítico, desapegado do que era suposto ser bom só para o “meu umbigo”.

Nasci e cresci num Brasil lutando pela democracia (e afirmando-se como tal), numa época em que, ilusoriamente, os juros da inflação davam rendimento a quem tinha "dinheiro aplicado". Daí porque lembro-me perfeitamente de ouvir o meu pai passar a vida a dizer: “No tempo de Figueiredo é que era bom!”, referindo-se a João Baptista Figueiredo, o último Presidente da ditadura militar brasileira. Não me envergonho de vos contar isto, o meu pai certamente não sabia o que dizia! Provavelmente, do seu lugar “confortável” nos confins do interior da Bahia, sequer se apercebia dos atos de terrorismo e da crescente dívida externa que pela primeira vez levou o Brasil a recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional).

Em verdade, era a forma desorganizada que o meu pai expressava o seu medo e desesperança diante da crise económica que nos abatia precisamente nas décadas de 80 e 90. Atentem que nós éramos uma família que vivia sobretudo da agropecuária, conseguida pelas mãos calejadas do meu pai trabalhador e pseudo-cacauicultor (o que lhe concedia algum status!), sendo portanto compreensivo que praguejasse contra quem, bem no meio da crise regional cacaueira (os preços do produto despencaram e a lavoura foi devastada pela praga da vassoura-de-bruxa), resolveu confiscar os depósitos bancários dos brasileiros visando conter a espiral inflacionária. Fernando Collor de Mello deve ser na História do Brasil o Presidente com a alma mais vezes encomendada ao Diabo!

Tudo isto para vos dizer que eu não sei o que é viver num país senão em crise. Quando o Brasil começou a sua ascensão económica, eu já cá estava, em Portugal, cuja economia indicia-se em queda vertiginosa, geradora do mesmo terror, mesma desesperança e mesmo caos que me é tão familiar! Não sei se serve como indicador, mas eu cresci, estudei, formei-me, empreguei-me, poupei e comprei o meu primeiro automóvel e a minha primeira casa num país em crise. O que desejo para o futuro de minhas filhas? Que elas cresçam, estudem, formem-se, empreguem-se e aprendam a poupar num país em crise ou não.

Decerto nós somos governados, mas no nosso metro quadrado quem governa somos nós. Somos nós quem decidimos de que lado vamos estar: se do lado de quem luta ou de quem entrega as armas; se do lado de quem espera ou de quem abre o caminho. Sem ter a exata noção disto, muito cedo fui forçada a abrir o meu próprio caminho, era inquieta demais para ficar a espera que os ventos me soprassem!

Com ironia ou não, nunca antes foi tão legível e tão invocado o acordo, expresso ou tácito, que considera Portugal e Brasil dois países irmãos. Diria eu, no meu baianês refinado, que nós somos mesmo é “farinha do mesmo saco”, temos o mesmo ADN (DNA). Portanto, meus caros irmãos portugueses, falando do alto da minha experiência própria e sem nenhum princípio económico sustentável (porque de fato não o tenho, a não ser o aprendido rudemente de forma quase doméstica), a crise deve ser mesmo encarada como uma coisa que sufoca, que tira-nos o sono, rouba-nos o emprego, mata-nos o cão e saqueia-nos a casa. Contudo, nós ainda assim podemos conviver com ela, respeitando-a, sem entretanto nunca nos darmos por vencidos. A crise, no fundo, deve servir para aguçar o nosso engenho. E acho que foi isto, este ensinamento, que de mais valioso e importante o meu pai me deixou! 

Coincidências à parte, deixo-vos com a canção “Meu Caro Amigo”, de Chico Buarque. Para quem não sabe, foi uma carta-cassete que Chico Buarque e Francis Hime gravaram como forma de passar pela censura da ditadura e enviaram para o amigo Augusto Boal, que se encontrava exilado em Lisboa, mandando-lhe notícias do Brasil. Tantos anos passados, caiu como uma luva na versão moderna recriada pelo e-mail de minha amiga. Salve Chico! Ninguém, melhor do que ele, sabe falar de nós!
 
  

terça-feira, 2 de julho de 2013

Campanha Coração Azul contra o tráfico de seres humanos: Essa luta é nossa!

Deixei aqui umas notas sobre o tráfico de pessoas para fins sexuais, uma das modalidades mais rentáveis no mercado mundial do crime organizado e que vem movimentando cerca de US$ 9bilhões por ano (no total de cerca de US$ 32bilhões do mercado ilícito do tráfico de pessoas - UNODC 2005).

Achei importante comentar o assunto, tanto mais sendo o Brasil o país da América do Sul campeão no tráfico de mulheres para a escravidão sexual, como também pela crescente emigração dos portugueses. Mulheres e meninas representam, no mundo todo, 80% das vítimas, sendo o tráfico de crianças responsável por 15 a 20% das vítimas detetadas (UNODC 2009).

A verdade é que a escravidão humana, pese embora historicamente abolida, até hoje perdura sob diversas formas. E pelo mundo todo. Foi por isto lançada uma campanha internacional pela UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime) contra o tráfico de seres humanos, a vertente moderna da escravidão, objetivando a conscientização para a luta contra o tráfico de pessoas e seu impacto na sociedade. A Campanha Coração Azul está aberta a todas as pessoas que queiram "vestir" o Coração Azul como símbolo da tristeza das vítimas e de seu apoio à essa luta. Basta fazer o download do logos, aqui

Brasil e Portugal também aderiram à Campanha Coração Azul. A cantora Ivete Sangalo é a Embaixadora da campanha brasileira, com o slogan "Liberdade não se compra. Dignidade não se vende". Confiram o Making Off e o vídeo institucional com a cantora, aqui e aqui. Em Portugal, a campanha foi lançada com o vídeo que se pode ver aqui.

Vamos todos participar ativamente dessa campanha, divulgando e encorajando a luta contra o tráfico de pessoas.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Desapareci, mas não morri!

Não, não morri! Foi só uma espécie de "morte virtual" quase anunciada, saí do "ar", desapareci forçadamente por uns dias... intermináveis dias! Ser mãe tem dessas coisas! É que nós, para além de todos os nossos papéis sociais, pessoais e profissionais, "também" somos mães. Ou será exatamente o contrário: somos mães e "também" desempenhamos outros papéis? Não sei, esta é uma luta que travo diariamente comigo!
 
Mas seja de que modo for, a minha ausência veio na sequencia de uma gastroenterite que a Malu trouxe para casa, seguida de uma conjuntivite viral com outra bacteriana por cima, que descambaram em  consultas, urgências pediátricas e oftálmicas. Salvamo-nos todos, mas a "mãe" termina com um esgotamento assimilado como um processo não criativo (para além de apanhar os "bichos" todos!).
 
Eu tenho uns "comas", no linguajar do marido! Não sou de todo hiperativa, aliás, uma das coisas de que mais sinto falta é de esticar-me numa toalha de praia, virar para um lado, para o outro, ler uma revista "cor-de-rosa", sem me levantar para absolutamente nada: nem apanhar baldinhos, nem catar conchinhas, nem assistir a piruetas felizes, nem correr para o mar, nada, nada mesmo. Mas quando me sinto obrigada a ficar em casa, ao invés de aproveitar para dormir a sesta, por exemplo, dou para arrumar armários. Começo pelos roupeiros e vou até a casa de bonecas do terraço.
 
Deve ser uma espécie de loucura, mas é assim que organizo minhas ideias. É incrível, mas enquanto seleciono coisas - separo as que tenho para dar daquelas que vão para o lixo - a minha cabeça pensante descansa e eu reoriento-me por dentro. E riu imenso das pegadas que as meninas vão deixando pela casa, da personalidade que elas vão desenhando pelos quatro cantos! A Malu tem se revelado uma exímia recicladora, guarda tudo, desde rolos de papel higiénico a caixas vazias de ice tea (para o desespero da mãe compulsiva por limpeza!), que "é para fazer criativas", segundo explica. E por onde a Eva passa, deixa um rastro de DVDs partidos, chinelos perdidos e um banquinho pelo meio, que é para atingir os lugares onde a sua pequenez não alcança.
 
Nessas horas, apraz-me sentir que somos uma família e que funcionamos dentro das condições que nos são impostas, cada um de nós desempenhando o seu papel da melhor forma que sabemos (e conseguimos!). Há renúncias, sem dúvida, umas mais que outras. Há cansaços, angústias, tarefas mal divididas e perguntas que não se calam, livros que não acabamos de ler, textos não concluídos, viagens que não fizemos, peças e filmes que não assistimos, mas por outro lado há uma alegria genuína estampada nas nossas fotografias, que revela o nosso melhor, o que temos de mais terno e nos mantém unidos.
 
Talvez só quem tenha experimentado a solidão rodeada de pessoas compreende ao certo esse meu sentimento! Tudo pode esperar, todos os projetos são adiáveis e realizados no último dia do prazo, impreterivelmente, exceto quando é a "mãe" quem tem de atuar. A "mãe" está sempre pronta e sobressalta ao primeiro chamamento!

Quanto a nós, prometo que esta semana termino de arrumar os armários e que se tudo correr bem, não tardo mais! É que também já sentia saudades de vos escrever!