sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O desapego

É muito, muito difícil dizer para alguém que amamos: "- Vá!". E tanto ou mais difícil ainda é sermos nós a soltarmos-nos de pessoas, coisas ou lugares que nos são caros, importantes. Estranhamente, os dicionários trazem o significado do verbete "desapego" exatamente como "falta de apego, desafeição, desamor, desinteresse". Ao meu ver, o desapego é sentido como o contrário de tudo isto: é amor a mais. Mas há ainda quem considere um elogio dizer que alguém é "desapegado", que nesse caso tem um sentido quase altruísta. Para mim, desapegar é um processo doloroso... e tão necessário quanto respirar. Considero o apego uma prisão. Ficamos muitas vezes acorrentados ao passado, ao que fomos ou que tivemos e não evoluímos, não deixamos a vida renovar, não sabemos se o que temos hoje é real e suficiente. Desapegar deve ser um ato de amor, uma libertação, nossa e daquilo que nos prende. Muitas vezes, é preciso desapegar para seguir em frente ou até, quem sabe, voltar atrás! 

Comigo, o desapego nunca vem sem lágrimas; contudo, depois confiro uma sensação de alívio, de respeito e de certeza que suplanta a angústia do "deixar de ter" e reforça-me por dentro. Não, não é o que parece. Não gosto de não ter, de deixar de ter! No entanto, desapego por necessidade de saber que o que tenho é verdadeiro... e precisa de mim tanto quanto eu preciso daquilo a que me apego.

É assim, com este sentimento, que venho deixando pelo caminho coisas, lugares e pessoas. Faço-o por amor. Algumas trago em meu coração, para sempre, sem grilhões que as prendam; outras perco na estrada. Mas isto é porque não são minhas: são da vida!

(...)

E foi por isto, por achar que pudesse cortar-lhe as asas, tolher-lhe o voo, tirar-lhe o vento, que Ela lhe disse: "- Vá!". E Ele ficou. E Ela achou que era porque não fazia mais sentido... e sentiu, dentro dela, aquele alívio de que lhes falei.  



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