terça-feira, 6 de agosto de 2013

"A Confissão da Leoa", de Mia Couto: um olhar sobre nós

Nunca tinha lido um livro do Mia Couto, só pequenos fragmentos e poemas que ia apanhando. Mas convencida da sua importância para a literatura contemporânea portuguesa, distinguido em face dos diversos prémios que vem angariando tal como o Prémio Camões deste ano e a mais recente indicação para a Bienal Internacional de Literatura Neustadt, escolhi A Confissão da Leoa como o meu livro de férias. E adorei!
 
Mia Couto começou como jornalista e professor universitário e atualmente é Biólogo e o escritor Moçambicano mais traduzido.  A sua obra A Confissão da Leoa chamou a minha atenção por ser inspirada em fatos e acontecimentos reais. Tem uma mulher como narradora, a qual, junto com outro personagem, retrata a guerra, a fome, a superstição e a cultura africana de segregação. Conta a história de pessoas mortas por ataques de leões numa aldeia do Norte de Moçambique e de sofrimento das vítimas da própria condição de mulher africana. Passagens como: «Foi a vida que lhe roubou humanidade: tanto a trataram como um bicho que você se pensou um animal», «Tristeza não é chorar. Tristeza é não ter para quem chorar» e «Não é a morte que confere ausência. O morto está ainda presente: todo o passado lhe pertence. O único modo de deixarmos de existir é a loucura. Só o louco fica ausente», revelam a sensibilidade do Autor e a dura verdade que exsurge das entrelinhas desse seu romance.  
 
Mia Couto recria de forma magistral a língua portuguesa, com uma influência africana que lhe confere doçura e beleza. Recomendo-o, portanto.
 

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