Hoje acordei às 06h30. Quer dizer, acordaram-me! Já faz parte da minha rotina diária ser acordada uma, duas, três vezes durante a noite ou levantar-me bem antes do alarme soar. Em seguida, enquanto tiro uma das meninas da cama, passo-lhe protetor solar, visto-a, dou-lhe o pequeno almoço e despacho-a rápido para a escola; a outra berra pela "papa da mãããeee", faz cocó e a esta altura já eu me visto, tomo minhas vitaminas, lavo os dentes (de ambas), preparo-a para a deixar na escola... pego o saco do ginásio (se não der para ir hoje, irei amanhã!), do computador, mochila da pequena, chuchas (duas!), brinquedos... tudo mais ou menos ao mesmo tempo. Às 9h00 já estou na frutaria mais próxima do bairro, volto à casa, deixo um bilhete com orientações e às 10h00 supostamente começa o meu dia. Antes, atualizo-me, falo com colegas, ouço e desabafo, respondo e-mails, às vezes escrevo... e depois de facto começo a trabalhar. É mais ou menos assim mas se tivessem me dito que assim seria nos meus tempos de solteira, provavelmente eu riria alto e diria: - Impossível!
Fui uma mulher parecida com a Ruth Manus, de certo modo fui programada para ser independente. E, em tempos, já me orgulhei muito disto! Tenho hoje uma caixa cheia de sapatos de saltos muito altos, guardada. Já não são "funcionais" e dificultam-me a vida, quando não dão-me jeito se tenho de levar uma das crianças ao colo. É verdade que o marido às vezes solta uma de suas críticas pretensiosamente engraçadas, daquelas do género: "- Tás sempre com os calcanhares no chão..."; mas eu acho mesmo é que tenho os pés fincados no chão, sei onde o calo me dói.
Depois, tem aquela questão do "próprio dinheiro", que rapidamente passa a ser o "dinheiro da família". Ainda assim, há de sobrar algum para as necessidades básicas de uma mulher... a bem da família.
Também não ensinaram-me a cozinhar. Aprendi, ainda hoje aprendo. Sou adepta da "cozinha fácil e rápida" mas quando quero (preciso!) vou ao Google e saco receitas básicas, experimento e fico satisfeita. Além de impressões sobre assuntos e artigos científicos, troco com amigas receitas de culinária. E vem dando certo.
Do que tenho mesmo pena é de não ter aprendido com a minha mãe a costurar (dava-me muito jeito nas festas das crianças!); no entanto sei pregar botões e fazer pequenos remendos, o que já não é mal.
No mais, aprendi a trocar fraldas como ninguém, da mesma forma como aprendi sozinha a conduzir assim que comprei o meu primeiro carro (sei que a ordem não deveria ser essa mas eu era uma jovem de 24 anos independente demais!); sou capaz de lavar um carro se me apetecer e sei exatamente distinguir materiais de limpeza. Continuo a não gostar de ganhar eletrodomésticos de presente de aniversário e de ser questionada sobre o que faço com as horas do meu dia. Contudo, licenciei-me, empreguei-me, pós-graduei-me, viajei, tirei o mestrado, despedi-me e casei-me (as duas decisões mais difíceis da minha vida). Como seria expectável, recomecei. Hoje, enquanto vejo as minhas filhas crescerem, tiro o doutoramento. Diria: resquícios de "uma mulher que voa", criada para "encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão". Sobre isto, conservo os amigos (masculinos e do género) de antes, angario novos amigos e nunca nenhum deles desconsiderou a minha condição de "mulher casada". Bom que se diga que liberdade, amor e respeito combinam-se perfeitamente.
Claro que, fazendo parte de uma geração de mulheres criadas para serem independentes, também achei que não encaixava-me propriamente nos padrões desejados para casar. Sorte a minha ter encontrado um homem que pensava mais ou menos como eu - ou eu como ele!
Do texto da Ruth Manus que li - A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer - e do que sou hoje, concluo que está enganado quem pensa que a independência é inconciliável com a vida conjugal e os filhos. A verdade é que, um dia, pode acontecer a qualquer uma de nós acordar e sentir-se demasiado só em meio a tanta independência; não falta-nos nada mas faltaria à vida um sentido maior do que reuniões e telemóveis a tocar - e isto não significa renunciar ao que somos. A verdade é que mudamos... ou amadurecemos... como preferirem. Focamo-nos em outros objetivos antes impensáveis. E o amor, junto com os filhos, vêm para nos ensinar que tudo é negociável, que tudo é relativo, que as prioridades mudam ou deixam de ter a importância que antes tinham ou, ainda, que somos capazes de mais. Portanto, não tenham medo! Mas se sentirem-se confortáveis, podem dizer que mulheres independentes também acumulam funções de "mulher de família" ou quiçá reformam-se! Só mais uma coisinha: é mentira que não somos frágeis.
Fui uma mulher parecida com a Ruth Manus, de certo modo fui programada para ser independente. E, em tempos, já me orgulhei muito disto! Tenho hoje uma caixa cheia de sapatos de saltos muito altos, guardada. Já não são "funcionais" e dificultam-me a vida, quando não dão-me jeito se tenho de levar uma das crianças ao colo. É verdade que o marido às vezes solta uma de suas críticas pretensiosamente engraçadas, daquelas do género: "- Tás sempre com os calcanhares no chão..."; mas eu acho mesmo é que tenho os pés fincados no chão, sei onde o calo me dói.
Depois, tem aquela questão do "próprio dinheiro", que rapidamente passa a ser o "dinheiro da família". Ainda assim, há de sobrar algum para as necessidades básicas de uma mulher... a bem da família.
Também não ensinaram-me a cozinhar. Aprendi, ainda hoje aprendo. Sou adepta da "cozinha fácil e rápida" mas quando quero (preciso!) vou ao Google e saco receitas básicas, experimento e fico satisfeita. Além de impressões sobre assuntos e artigos científicos, troco com amigas receitas de culinária. E vem dando certo.
Do que tenho mesmo pena é de não ter aprendido com a minha mãe a costurar (dava-me muito jeito nas festas das crianças!); no entanto sei pregar botões e fazer pequenos remendos, o que já não é mal.
No mais, aprendi a trocar fraldas como ninguém, da mesma forma como aprendi sozinha a conduzir assim que comprei o meu primeiro carro (sei que a ordem não deveria ser essa mas eu era uma jovem de 24 anos independente demais!); sou capaz de lavar um carro se me apetecer e sei exatamente distinguir materiais de limpeza. Continuo a não gostar de ganhar eletrodomésticos de presente de aniversário e de ser questionada sobre o que faço com as horas do meu dia. Contudo, licenciei-me, empreguei-me, pós-graduei-me, viajei, tirei o mestrado, despedi-me e casei-me (as duas decisões mais difíceis da minha vida). Como seria expectável, recomecei. Hoje, enquanto vejo as minhas filhas crescerem, tiro o doutoramento. Diria: resquícios de "uma mulher que voa", criada para "encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão". Sobre isto, conservo os amigos (masculinos e do género) de antes, angario novos amigos e nunca nenhum deles desconsiderou a minha condição de "mulher casada". Bom que se diga que liberdade, amor e respeito combinam-se perfeitamente.
Claro que, fazendo parte de uma geração de mulheres criadas para serem independentes, também achei que não encaixava-me propriamente nos padrões desejados para casar. Sorte a minha ter encontrado um homem que pensava mais ou menos como eu - ou eu como ele!
Do texto da Ruth Manus que li - A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer - e do que sou hoje, concluo que está enganado quem pensa que a independência é inconciliável com a vida conjugal e os filhos. A verdade é que, um dia, pode acontecer a qualquer uma de nós acordar e sentir-se demasiado só em meio a tanta independência; não falta-nos nada mas faltaria à vida um sentido maior do que reuniões e telemóveis a tocar - e isto não significa renunciar ao que somos. A verdade é que mudamos... ou amadurecemos... como preferirem. Focamo-nos em outros objetivos antes impensáveis. E o amor, junto com os filhos, vêm para nos ensinar que tudo é negociável, que tudo é relativo, que as prioridades mudam ou deixam de ter a importância que antes tinham ou, ainda, que somos capazes de mais. Portanto, não tenham medo! Mas se sentirem-se confortáveis, podem dizer que mulheres independentes também acumulam funções de "mulher de família" ou quiçá reformam-se! Só mais uma coisinha: é mentira que não somos frágeis.
"O fato é: quem foi educado para nos querer? Quem é seguro o bastante para amar uma mulher que voa? Quem está disposto a nos fazer querer pousar ao seu lado no fim do dia? Quem entende que deitar no seu peito é nossa forma de pedir colo? E que às vezes nós vamos precisar do seu colo e às vezes só vamos querer companhia pra um vinho? Que somos a geração da parceria e não da dependência?" (trecho transcrito do texto da Ruth Manus, ao qual me refiro).
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Parabéns pelo texto, muito lindo!
ResponderEliminarObrigada, Acácia! Beijinhos :)
EliminarLinda reflexão!
ResponderEliminar;)
Obr Paula, beijinhos ;)
EliminarMuito bom Núbia! Identifico-me em quase tudo - excepto em ter encontrado um marido que pense como eu. Neste aspecto, somos vinho e água - eu o vinho, ele a água. Eu sou as letras, ele os números, eu sou o agora, ele o amanhã.. e com um pouco menos de aventura e um bocado mais de precaução, vou conciliando o meu sonho de independência com a louca alegria de uma família numerosa. Adorei o texto, parabéns :-)
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarSó uma correção amiga: pensamos mais ou menos parecido... Vai uma grande diferença kkkk bjs, parabéns tbem, vc é uma corajosa.
EliminarPois vai, amiga kkkkkkkk !! Mas as diferenças são mesmo tramadas, difíceis, mas essenciais para o equilíbrio!
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